Morreu o famoso diretor de teatro lituano Eimuntas Nekrosius. Um importante artista e um dos maiores diretores de teatro europeu, Eimuntas Nekrosius cumpria. Me lembro do impacto que o seu "Hamlet" provocou em Porto Alegre no 8º Porto Alegre me Cena em 2001. Que espetáculo sensacional, me causou um misto de alegria e felicidade em vivenciar um espetáculo com imagens belíssimas que mesclavam elementos como gelo e fogo para contar a história do príncipe dinamarquês.
Anton Tchekhov ("Ivanov", "Tio Vânia") foi certamente um dos seus primeiros autores de referência, juntamente com Shakespeare. Juntamente com os atores da companhia Meno Fortas, teatro-estúdio que fundou em 1998, em Vilnius, abriram-lhe as portas do sucesso na Itália, a partir de uma visionária trilogia de Shakespeare. As cargas de energia, fisicalidade e química que promove no palco entre os atores prevalecem sobre a palavra.
"Hamlet" cruzou inquietação e autodestruição (como o famoso candelabro de gelo que se derrete diante do público), "Macbeth" e "Otelo" foram produções mágicas, prova de que a fórmula funciona. O que impressiona em Nekrosius é a abordagem à cena: o trabalho expressivo profundo com os atores, em retiradas introspectivas ou psicológicas, mas com uma carga comunicativa de grande riqueza humana.
Em 2007, Porto Alegre recebeu "Otelo"“ com uma originalíssima experiência de depuração e deslumbramento - sujeita todos os textos a uma cura de emagrecimento, porque acredita que todas as boas idéias nascem da simplicidade, e é um adepto do teatro visual”.
E em 2008 pude novamente assistir ao trabalho de Nekrosius com FAUSTO, uma verdadeira epifania cênica. onde empregou todo um inventário estético e lingüístico de sua arte. Em cena, deixou apenas a essência, descartando diversas cenas e personagens. Concentrou a direção na atuação de seus extraordinários atores e seu método visual, que muitas vezes substitui uma palavra ou um gesto.Encantado com o material utópico de Fausto e focado em seu problema central, o que Nekrosius revela ao público é a impossibilidade de parar o tempo. A cena era dividida entre escuridão e luz e enfatizada pela contínua trilha sonora. Jamais vou esquecer da verdadeira odisséia que foi a passagem deste espetáculo por aqui, pois estavam programadas três sessões do trabalho, mas devido ao atraso da carga do cenário do espetáculo que foi parar em Buenos Aires, o espetáculo teve apenas uma concorrida sessão no Salão de Atos da Ufrgs e mesmo com todos os percalços, foi uma apresentação inesquecível!So imensamente grato ao Porto Alegre em Cena por proporcionar o contato com um encenaor magnífico como Eimuntas Nekrosius de uma terra tão longe como a Lituânia...
Nekrosius obrigado pela sua arte e por nos inspirar na vida e na arte!
