quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O melhor do teatro brasileiro permanece quase oculto


O momento atual comporta uma dialética complexa e semelhante a algo que ocorre no processo social
Para entender a grande variedade de experiências vividas hoje na cena teatral, é preciso olhar primeiro para os modos de produção e seu entorno, especialmente no capítulo das políticas públicas. Com isso não se diz, evidentemente, que a diversidade de proposições estéticas que o teatro vive se deve apenas à paulatina mudança de paradigma no modelo de incentivo. É que em nenhuma arte a relação entre investimentos e qualidade de pensamento é muito segura. Às vezes, pelo contrário, processos artísticos altamente subvencionados redundam em obras irrelevantes. Entretanto, tem sido visível que a multiplicação das oportunidades gera um ambiente cultural vivo em proposições. Isso acontece, sobretudo, nos lugares em que o sistema de fomento à produção artística se aproxima mais da subvenção direta do Estado e menos de leis de incentivo, como a Lei Rouanet, que em regra subsidiavam, até poucos anos atrás, apenas o teatro de mercado, de pouco risco estético.
A ponta de lança no processo de redefinição dos rumos do teatro brasileiro é a retomada da cultura de grupo. Ainda que muitos grupos de teatro tenham surgido nos anos 1980, convencionou-se dizer que a década foi marcada pela presença autoral do encenador e por criações que tendiam a ser reconhecidas em uma única assinatura. Não à toa naquele momento era comum se referir a um trabalho, por exemplo, como o espetáculo “do Gerald Thomas”, ou “do Ulysses Cruz”. Em montagens formalistas, como Carmem com Filtro (Thomas, 1986), era recorrente a voz ensimesmada, o esmerado acabamento plástico e o hermetismo que de alguma forma tentavam desideologizar o palco cansado de guerra dos anos 1970.Hoje a perspectiva autoral inverteu-se novamente em direção aos coletivos. Pode-se dizer que o teatro brasileiro atual, ou boa parte do que nele interessa, é uma síntese de época que equilibra as posições do encenador como criador ilhado e do grupo como instância de deliberação coletiva. Mas, em um e outro caso, o teatro já não é mais o mesmo e sofre uma dialética interessante. Por um lado, encenadores da estatura de Antunes Filho e José Celso Martinez Corrêa continuam suas jornadas em que o brilho individual é, como sempre foi, indispensável aos projetos artísticos. Mas também o são suas respectivas companhias. No seu Centro de Pesquisa Teatral (CPT), mantido pelo Sesc e nascedouro de uma geração inteira de grandes intérpretes, Antunes continua dirigindo os espetáculos que desdobram as características de estilo que o notabilizaram, mas manteve durante os últimos dez anos, em pararelo, o projeto Prêt-à-Porter, para a montagem de trabalhos escritos e dirigidos pelos próprios atores. Ali ele se autodenominava apenas “coordenador” e não mais diretor.
Em outra frente, o grupo de teatro atual também já não obedece às mesmas dinâmicas da chamada “criação coletiva” que marcou os anos 1970. Ali, por força da necessidade de agregação diante do momento politicamente adverso e de negação da incômoda figura centralizadora do diretor quando o artista se esforçava por protestar contra a autoridade, o teatro dissolveu as funções criativas e buscou horizontalizar as relações de poder. Hoje, sem a pressão daquela conjuntura e numa época pautada pelo pragmatismo sem culpa na divisão do trabalho, os princípios de criação modificam-se. Nos processos cooperativados da maioria dos grupos há um trânsito mais que razoável e estimulado entre uma e outra função (por exemplo, o ator como criador do texto dramatúrgico, ou o dramaturgo que trabalha criando cenas junto com os atores na sala de ensaio), mas as funções aparecem preservadas, os ofícios particulares são respeitados, havendo apenas um trânsito mais fluido entre eles. De todo modo, entender essa dinâmica, batizada genericamente pelos grupos de teatro como “processos colaborativos”, é fundamental para avaliar a fatura estética que está surgindo nessas bases.
Teatro de grupo e sucesso estético


Sem demérito do chamado “teatro de produção”, em que artistas – atores, diretor, técnicos – são contratados para montar um espetáculo em um tipo de experiência normalmente de curto prazo, é no teatro de grupo, quando colocado em perspectiva experimental, que as condições ideais para o sucesso estético têm sido plantadas. É que o grupo tem a seu favor o fato de contar com um núcleo de trabalho que tende a se afinar cada vez mais com o tempo, em projetos artísticos mais ambiciosos e pensados para um tempo de resolução mais lato, em que os propósitos formais, políticos, de linguagem e de pensamento têm espaço maior para evoluir em sintonia. Isso porque não há para o grupo muitos outros atrativos que justifiquem a agregação. Muitas vezes, ao contrário, do ponto de vista financeiro, a atividade é até inviável, ainda que o rendimento artístico seja promissor.

Tomemos como exemplo um dos últimos espetáculos do Teatro da Vertigem, de São Paulo. BR-3 (2006), dramaturgia de Bernardo Carvalho com direção de Antônio Araújo, é uma tragédia épica que toma como tarefa um passeio pelas questões de identidade do Brasil. Trata-se de um projeto que consumiu dois anos de pesquisas e ensaios e mobilizou a companhia em um percurso que começou na Vila Brasilândia, bairro da periferia de São Paulo, até Brasileia, cidade do Acre. O espetáculo foi representado no trecho urbano do Rio Tietê, na cidade de São Paulo, em barcaças que comportavam menos de 50 espectadores por sessão. Do ponto de vista mercadológico, a empreitada era desde logo inviável. Mas isso era compensado com sobra pelas implicações de ordem política e estética. A proposta de fazer o diá-logo crítico e direto do acontecimento teatral com a cidade através de um dos seus símbolos mais caros, assim como os desdobramentos necessários para que isso tivesse consequência do ponto de vista da coisa cênica (por exemplo, na modulação das interpretações, no trabalho de cenografia e iluminação de um espaço amplo e inusitado como o rio), justificavam a aventura, tornada impossível se as referências de viabilidade fossem as do teatro de mercado.
São grupos como o Vertigem (praticamente anônimos se comparados aos espetáculos comerciais geralmente sustentados na imagem de algum artista televisivo) que têm garantido, por um lado, as possibilidades de reinvenção da linguagem teatral. Por outro, talvez movidos pelo instinto de sobrevivência, são esses coletivos que têm forçado as saídas do círculo vicioso em que o teatro feito para a classe média brasileira se encalacrou, à base de comédias ligeiras e em seus ambientes fechados. O caminhar em direção aos espaços abertos e o contato direto com a cidade deixaram de ser tarefa para o chamado teatro de rua. Companhias como o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos (SP), Ói Nóis Aqui Traveiz (RS), Cia. São Jorge de Variedades (SP), ou o mineiro Galpão, que faz seu retorno às praças depois de vários anos, talham suas dramaturgias à risca para esse contato menos mediado com plateias que na maioria das vezes não os veriam senão nessas circunstâncias.


Caminhos formais
O teatro hegemônico, entretanto, continua sendo o que se sustenta nas variações da teledramaturgia levada ao palco ou, mais recentemente, na fatia dos grandes musicais. É que o público das salas de espetáculo no Brasil é a classe média, e esta majoritariamente se referencia no chamado televisivo ou no modelo dos megaespetáculos norte-americanos. Quanto aos musicais, em que pese um ou outro com mais estofo e inquietação, em geral são espetáculos que impressionam pelo grande volume de produção e excelente aparato técnico. Infelizmente, em contraponto, perdem em originalidade. O país ainda está por ver ampliar, em anos futuros, o incremento de uma dramaturgia de fato brasileira nessa área, sem os arremedos e cacoetes da Broadway.

No caso da televisão, é curioso que o teatro tenha emprestado a ela uma de suas linhagens, o naturalismo, e agora permaneça refém de uma herança que volta na mesma chave, só que mais empobrecida. Talvez por isso a cena experimental tenha se dedicado a uma espécie de desdramatização do teatro, aproximando-o da performance e com isso enxugando o palco de um de seus mais importantes tabus: o da representação em chave mimética, ou seja, da representação como imitação de pessoas ou situações. Salvo engano para artistas que ainda veem na arte alguma possibilidade de contraponto à pasteurização da realidade (e vivemos sem dúvida um realismo mais que excessivo na cultura midiática), é o próprio princípio de imitação do real que está sendo posto em jogo para que possamos saber o que sobrou dele, como o fizeram os primeiros modernos.
Quando assistimos, por exemplo, aos espetáculos da Companhia dos Atores (Ensaio Hamlet), aos do Uzyna Uzona na direção de Zé Celso (Os Sertões), à Companhia do Latão (O Círculo de Giz Caucasiano), às montagens do Teatro Autônomo (Deve Haver Algum Sentido em Mim que Basta) ou às direções de Cristiane Jatahy (A Falta que Nos Move ou Todas as Histórias São Ficção), é esse sentido de assalto às possibilidades da representação do real que estão sendo formulados. Cada qual em sua coordenada, seja ela mais formalista, seja essencialmente de proposição política, são teatros que tateiam a reinvenção do arsenal expressivo que constitui as próprias linguagens do teatro, muitas delas já assimiladas e neutralizadas na cultura de massa.
O momento que comporta essa dialética complexa entre tradição e invenção, entre o herdado e o novo, por sua vez não está longe de algo parecido que ocorre no processo social. Assim como se vive, ilusoriamente ou não, certa euforia com a promessa de um país prestes a se alinhar aos grandes no painel internacional, e, portanto, com alguma perspectiva de autonomia, sem ter superado, no entanto, seus vícios históricos mais elementares, assim também uma parte do teatro brasileiro está deixando de lado as chamadas formas modelares para correr atrás do próprio destino, mesmo que não tenha solidificado uma tradição teatral como é característica de culturas mais antigas. Por vezes os resultados são estranhos, como estranha é nossa própria sociabilidade no que ela tem então de parcial, provisória e incompleta. Mas, de qualquer maneira, temos mais chances de nos reconhecermos como sujeitos nessas experiências “erradas”, que parecem ser francamente mais honestas.Nesse teatro diverso, criado em circunstâncias não favoráveis à mercantilização, mas representando o capital simbólico indispensável à cultura e necessitando, portanto, de um modelo específico de fomento; nessa cena impura e, pode-se dizer, praticamente anônima, paralela aos contextos midiáticos, é lá que a arte do teatro está sobrevivendo e onde o Brasil está sendo pensado. A expectativa e a esperança é que essa parte da produção encontre naquelas condições hoje mais favoráveis citadas no início os meios para sua circulação e inserção mais decisiva no ambiente cultural, sobretudo quanto ao encontro com as plateias. Sem isso, talvez prevaleça a dicotomia perversa que precisa ser desafiada: a de uma arte inofensiva feita para as camadas médias da população e uma arte inquieta que, no entanto, permanece oculta para a maioria.
Kil Abreu é jornalista, pesquisador e crítico de teatro
Publicado em 08 de outubro de 2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

DISPOSITIVOS SÔNICOS de CHICO MACHADO



Mostra apresenta o resultado de experiências com o som e o vídeo digital.


A partir de hoje o artista plástico Chico Machado ( que foi meu professor na Faculdade de Teatro na Uergs, saudades Chico!) inaugura a sua nova exposição, Dispositivos Sônicos, no dia 26 de outubro no Museu do Trabalho. A mostra reúne vídeos digitais e objetos cinéticos sonoros e é resultado da convergência de diferentes experiências criativas do artista.


Em Dispositivos Sônicos, Chico Machado busca investigar o movimento e a manifestação do som. Entre os objetos que estarão expostos, ganha destaque o “ritimifiqueitor”, um aparelho que produz sons e ritmos a partir do seu deslocamento no espaço, e mais cinco objetos/instrumentos de corda tocados à manivela. São todos aparelhos sonoros manipuláveis com os quais o público poderá interagir, provocando sonoridades e acontecimentos diversos. Já os vídeos foram feitos a partir de registros destes mesmos aparelhos e instrumentos em funcionamento, além do registro de ações como pregar e serrar as peças e materiais utilizados na confecção dos próprios objetos da exposição.



A abertura da mostra contará com uma performance sonora e cinética em colaboração com o músico e compositor Luciano Zanata. Durante o evento, serão realizados vídeos documentais com os dispositivos em funcionamento – estes vídeos passarão por uma manipulação digital e serão exibidos posteriormente no próprio local.



Características físicas dos trabalhos
Os objetos que compõem a exposição foram construídos com madeira, metal, plástico borracha e outros materiais, e com a utilização de partes de outros objetos. O trabalho denominado Ritimifiqueitor mede aproximadamente 5m de diâmetro por 2,5 de altura. Os outros trabalhos são menores e não possuem um nome específico. Os vídeos foram captados e editados digitalmente. São diversos vídeos de curtíssima duração (entre 1 e 3 minutos cada) colocados numa programação que irá variar durante o período de exposição. Eles são sonoros e serão projetados por um projetor multimídia.



Chico Machado



Chico Machado é graduado em pintura e desenho pelo Instituto de Artes da UFRGS, onde também fez especialização em Teoria do Teatro Contemporâneo e mestrado em Poéticas Visuais. Desde 2009 está cursando o doutorado em Poéticas Visuais pelo PPGAVI na mesma universidade. Foi professor no curso de graduação em Artes Visuais da UERGS/FUNDARTE em Montenegro entre 2002 e 2008 e é professor da UFPEL em Pelotas desde 2009. Atuou como desenhista de quadrinhos na década de 80 (Revista Kamikaze) e também como músico na década de 90 (Aristóteles de Ananias Jr.), desenvolveu ao longo do tempo atividades em performance e nas áreas de cenografia, indumentária cênica.



Desde 1991, Chico Machado realizou várias exposições individuais e participou de coletivas. Sua trajetória artística é marcada também por vários prêmios, entre os quais se destacam o Prêmio Aquisitivo no V Salão Nacional Victor Meirelles em (Florianópolis/SC) em 1997, e o I Concurso Goethe de Artes Plásticas, realizado pelo Goethe Institut de Porto Alegre em 2000.



No canal do artista no youtube estão disponíveis algumas amostras das suas produções: http://www.youtube.com/user/professorchico



Dispositivos Sônicos, exposição de Chico Machado
Abertura dia 26 de Outubro, terça, às 19h30
Visitação de 27 de outubro a 24 de dezembro de 2010
Terça a sábado, das 13h30 às 18h30
Domingos e feriados, das 14h às 18h30
Entrada franca



Museu do Trabalho - Rua dos Andradas 230

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CLARICE LISPECTOR É DESTAQUE NA FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE


Clarice Lispector é destaque na Feira do Livro de Porto Alegre

Benjamin Moser, biográfo da escritora, e atividades para os professores integram a programação
 Como todos nossos amigos já sabem, o Grupo Válvula de Escape estreia seu mais novo espetáculo "Assovio no Vento Escuro" no próximo dia 9 de dezembro, baseado no livro de Clarice Lispector "A Hora da Estrela", e é com enorme alegria que anunciamos que a obra de Clarice Lispector terá um destaque na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, inclusive com a presença do biográfo Benjamin Moser, autor do livro acima. Abaixo maiores informações sobre o evento. 

A vida e a obra de Clarice Lispector estarão marcadamente presentes na 56ª Feira do Livro. No dia 15 de novembro, receberemos o norte-americano Benjamin Moser, autor da primeira biografia internacional da escritora. O maior divulgador da escritora brasileira no exterior participará do bate-papo “Biografias, diários, memórias e correspondências de Clarice Lispector”, que ocorrerá às 17h, no Auditório Barbosa Lessa – Centro Cultural CEEE Érico Verissimo.

Após o evento, será realizada a leitura dramática “Momentos de Clarice”, com textos da autora interpretados por Eleonora Rizzo, Ida Celina e Vika Schabbach, com direção de Luciana Éboli. Na mesma tarde, os leitores poderão acompanhar, ainda, a exibição do Documentário Clarice Lispector, com a última entrevista da escritora, concedida ao jornalista Junio Lerner (Programa Panorama, 1977).

Além dos eventos que ocorrerão na última tarde da Feira do Livro, outra atração, dedicada a professores, terá como tema a obra Clarice Lispector.  Nos dias 9 e 10 de novembro, às 19h, uma experiência literária inédita será iluminada pela escritora, que inaugurou o existencialismo no universo da ficção brasileira.  Em Professores leem Clarice, serão compartilhadas pelos participantes, no primeiro encontro, suas impressões sobre a leitura das obras O primeiro beijoFelicidade clandestina e Via crucis. No segundo dia, as atenções serão voltadas ao romance Água Viva.  Já estão abertas as inscrições para as atividades, que terão a coordenação da professora Zilá Mesquita.

Os eventos prestarão também sua homenagem à escritora, que completaria 90 anos em dezembro de 2010. Parte do ciclo A Hora do Educador, os encontros do Professores leem Clarice - Leituras Compartilhadas foram concebidos a partir do curso de extensão Tessituras: Formação de Mediadores para Programas de Leitura, que a Câmara Rio-Grandense do Livro realizou, em parceria com a UFRGS, de março a julho deste ano, com a participação de representantes de 23 município gaúchos que já desenvolvem ou pretendem desenvolver iniciativas nesta área.


SERVIÇO

Dia 9 de novembro, às 19h 
Professores leem Clarice – Leituras Compartilhadas
Contos: O primeiro beijoFelicidade clandestinaVia crucis

Dia 10 de novembro, às 19h
Professoress leem Clarice – Leituras Compartilhadas
Romance: Água Viva

Onde: Recanto do Educador da Biblioteca do Cais (Armazém 1 do Cais do Porto)
Inscrições (gratuitas, com vagas limitadas):
visitacaoescolar@camaradolivro.com.br e (51) 3286-4517, com Fernanda.


Dia 15 de novembro, às 14h30
O quê: Documentário Clarice Lispector 
Onde: Tenda de Pasárgada

Dia 15 de novembro, às 17h 
Benjamin Moser – Autor da biografia Clarice 
Bate-papo: “Biografias, diários, memórias e correspondências de Clarice Lispector”
Onde: Auditório Barbosa Lessa – Centro Cultural CEEE Érico Verissimo

Dia 15 de novembro, após o bate-papo
O quê: ”Momentos de Clarice", leitura dramática de textos da autora, com Eleonora Rizzo, Ida Celina e Vika Schabbach. Direção de Luciana Éboli
Onde: Auditório Barbosa Lessa – Centro Cultural CEEE Érico Verissimo

Feira do Livro de Porto Alegre é realizada há 55 anos na Praça da Alfândega. Nasceu em 1955, quando um grupo de livreiros, intelectuais e jornalistas, organizou a primeira edição com o lemaSe o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo". Um dos mais tradicionais eventos culturais da cidade recebe anualmente mais de um milhão de pessoas, que visitam as cerca de 160 barracas e participam de uma intensa programação de sessões de autógrafos, seminários, debates, mesas-redondas e apresentações artísticas. Em 2006, a Feira do Livro de Porto Alegre recebeu o diploma de Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura e, em 2010, a maior feira de livros a céu aberto das Américas foi declarada Patrimônio Imaterial da Cidade pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural da Capital.

domingo, 24 de outubro de 2010

"MÃE CORAGEM" Grupo Caixa Preta. ENSAIO ABERTO

No último domingo, dia 17 de outubro, tivemos em Montenegro a presença do Grupo Caixa Preta de Porto Alegre, em uma apresentação relâmpago na cidade. Tratava-se de um ensaio aberto do seu mais novo espetáculo "Mãe Coragem", livremente inspirado na obra "Mãe Coragem e seus filhos" de Bertold Brecht. Este é o primeiro trabalho do grupo direcionado para a rua, sendo que anteriormente já explorou o palco convencional e espaços alternativos com seu espetáculo de maior projeção "Hamlet Sincrético". Assisti ao trabalho que originou o Caixa preta em 2003, a peça era "Transegun", um diálogo com a questão da negritude por meio de uma estética que retoma elementos da cultura negra. Dirigida por Jessé Oliveira, provocou em mim um misto de encantamento e gozo diante daquela história, mas mais do isso, pois eu vivenciava ali o nascimento de um projeto de resgate da obra dramatúrgica de autores afro-descendentes. Somente este fato já me alegrava, pois assim como aqueles artistas negros (da narrativa e da "vida real") que agora estavam no centro das atenções, dando voz aos seus anseios, eu, que também sou um artista negro, também poderia me expressar daquela forma. Passei a ter o Grupo Caixa Preta e seu diretor como referencia para a criação do meu trabalho em teatro, tanto que o meu trabalho de conclusão no curso de teatro tratei justamente do papel do negro na sociedade atual, da valorização da negritude.  Bom, depois de Transegun, vieram as seguintes montagens:  HAMLET SINCRÉTICO (2005), baseado na obra de William Shakespeare; o monólogo MADRUGADA, ME PROTEJA (2007), de Cuti, protagonizada pelo ator Silvio Ramão; ANTÍGONA BR (2008), vencedor do Prêmio Myriam Muniz, da FUNARTE; O OSSO DE MOR LAM (2010), do autor senegalês Birago Diop, estes realizados sob direção de Jessé Oliveira.  

Transcrevo tudo isso para falar um pouco do novo trabalho do Grupo : MÃE CORAGEM. Os comentários que eu farei a seguir serão baseados no ensaio aberto realizado em Montenegro, sendo que a peça estreiou somente hoje, 24/10, mas creio que através deste, poderei estar contribuindo para o trabalho dos colegas do Caixa Preta. 
O espetáculo de rua “Mãe Coragem”, livremente inspirado na obra “Mãe Coragem e seus filhos”, de Bertolt Brecht vem somar mais uma página no histórico deste grupo, tratando-se da primeira experiência na rua. No elenco, estão: Diego Neimar, Gil Colares, Lucila Clemente, Ravena Dutra, Rielle Dutra, Silvia Duarte e Silvio Ramão. A montagem tem a direção cênica do colombiano Javier Moná Lapeira, especialmente convidado para dirigir esta encenação. Esta proposta foi vencedora do I° Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, importante iniciativa do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves e Fundação Palmares, instituição vinculada ao Ministério da Cultura, com patrocínio da Petrobras. Em seu novo trabalho, o Caixa-Preta se lança a novos desafios: trabalha com um novo diretor e investiga um outro espaço de encenação, a rua. 
Nesta peça os atores se revezarão na atuação dos diversos personagens, cada qual oferecendo sua própria maneira de interpretação, a partir de suas experiências e vivências pessoais. Baseado neste revezamento, o destaque vai para o ator Gil Colares, que além de interpretar a melhor versão da  Mãe Coragem, consegue se adaptar facilmente aos seus demais personagens, sendo que todos eles tem uma pitada brasileira na interpretação, diria baiana, um sotaque, que aproxima o público da peça. Destaco também a atriz Silvia Duarte, que tem um uma presença maravilhosa, além de um carisma natural, necessário ao teatro de rua, gostei muito da sua construção da personagem Catarina (Katrin) e das demais personagens. Destaco também  a atriz Ravena Dutra, que sem dúvidas é uma das melhores atrizes de sua geração, onde acompanho o seu trabalho desde o tempo das oficinas da Terreira da Tribo, e conhecendo o seu trabalho, diria que em alguns personagens ainda está rígida demais, séria demais, podendo estar um pouco mais livre em cena. Rielle é a mais simpática de todos, tem bons momentos, mas teatro não é só simpatia.  Silvio é correto não se permitindo ousar mais nas variações de personagem e Diego e Lucila são bastante rasos em suas construções, ficando somente no texto e nas marcas, não aproveitando os momentos que a própria rua lhes oferecia, falta muito jogo ainda, mas creio que com o tempo o grupo acerta no ritmo, sendo que este foi o seu ensaio aberto, o primeiro contato com o público, a primeira experiência com figurinos e cenários, enfim.  
Sobre a concepção do espetáculo, penso que esta mistura de Brasil (Grupo Caixa Preta), Alemanha (Brecht), África ( elementos da cultura Afro) e Colômbia ( Diretor Javier Moná) poderia render ou num espetáculo rico,colorido, múltiplo e repleto de simbologias e referencias destas matrizes ou numa grande confusão de idéias e estéticas.    Creio que a adaptação ficou confusa, as trocas de personagens ficou muito obvia, pois quando eu vi que o 3º ator trocou de personagem e foi fazer a Mãe Coragem, pensei puxa, todos passaram pela personagem título, daí ficou previsível demais, e as trocas eram sempre iguais, a mesma idéia, a mesma forma, com dialetos  e músicas em alemão e simbologias afro, creio que faltou uma liga para tudo isso, e também faltou um pouco de direção aos atores, que muitas vezes evidenciam em cena que tiveram grande liberdade de criação, faltando um pulso forte da direção, talvez uma marca que me revelasse a poética do diretor, que imprimisse no espetáculo a sua autoria. Acredito que ao longo do tempo o espetáculo ganhará, e muito e com certeza virá a ser uma referencia no teatro de rua de Porto Alegre, mas para chegar a isso, falta ajustar a unidade e coesão do grupo diante da magnitude deste tipo de concepção, acertar na triangulação com o público e fazer uma maior distribuição no espaço e que os atores possam se entregar em maior intensidade ao espetáculo, seguindo os passos de Gil Colares, ao meu ver o melhor em cena, mesmo sendo um ensaio aberto, ou seja, apostou  e se entregou mesmo não sendo uma apresentação oficial. Saliento que um dos pontos positivos foi a utilização do cenário, uma "Kombi" adaptada, fazendo-se de carroção da Mãe Coragem, e sendo bem utilizada como espaço da encenação, onde os atores utilizam o espaço interno, externo e em cima, e ainda fazendo o papel de guarda-roupas e adereços da encenação, contribuindo para uma encenação rica plasticamente, tanto nos adereços quanto nos figurinos.   
No realese de divulgação o diretor descreve que “Em Brecht, o tom da encenação é dado pela voz”, explica ele. “Utilizo a técnica do pregão, o que também remete a uma prática do universo africano. Na prática, os atores criam um sotaque próprio para os personagens e para as diferentes atmosferas propostas. Estamos nos arriscando, mas está na hora de quebrarmos alguns conceitos. O teatro precisa reencontrar sua raiz popular”, diz. Concordo com a sua teoria, mas na prática, a utilização deste sotaque afasta um pouco esta idéia de reencontro com a raiz do teatro popular, pois o público fica um pouco desnorteado, sem chão, não conseguindo acompanhar a narrativa da peça, fica confuso, difícil de realizar uma leitura imediata, não gosto da idéia de que o público deva receber tudo de maneira direta, mastigada, mas na rua, acredito que o teatro deve ter uma adesão imediata do transeunte, pode-se falar de tudo, política, guerra, conflitos, amor ou seja lá o que for, mas de modo articulado, claro e direto, pois, senão corre-se o risco de perder o alvo, ou seja, o público, o que acontece em muitos momentos da peça. Gosto de grupos que se arriscam em suas propostas e idéias, mas creio que neste caso o grupo se arrisca sim, mas não chega a criar, quebrar ou ultrapassar nenhum conceito, seja na concepção, seja na prática, teorias ou conceitos. Mas temos que louvar sim, idéias como estas, de transformar e arriscar na adaptação de clássicos transpondo-os a outros territórios. E o território do Caixa Preta é este, de aproximar textos clássicos a cultura negra e afro-brasileira. Talvez esteja na hora de o grupo arriscar a transitar em outros territórios, sem negar a sua raiz e histórico, ousando nas criações, trazendo uma poética em que o negro seja o foco sempre, mas inovando na forma e nas referencias, mas ousando experimentar outros territórios, pisando em ovos, senão o que pode acontecer é de estas experiências se tornarem cristalizadas, pois não adianta mudar o texto, o mote e o enredo das encenações, se mantiverem sempre o mesmo foco e estilo de encenação. 
Este é um comentário sobre o "ensaio aberto" do devido espetáculo, portanto, tudo o que foi pontuado acima, trata-se somente sobre o ensaio, gostaria muito de rever o espetáculo, para ver a evolução natural que com certeza acontecerá. Ao grupo Caixa Preta fica a nossa admiração e que mantenham viva esta vontade de transformar a realidade, despertando em seu público um olhar diferenciado sobre as diferenças.  
 
FICHA TÉCNICA
 
Mãe Coragem 
 
Livremente inspirado na obra “Mãe Coragem e seus filhos”, de Bertolt Brecht
 
Dramaturgia 
Grupo Caixa-Preta
 
Elenco 
Diego Neimar - Gil Colares - Lucila Clemente - Ravena Dutra - Rielle Dutra
Silvia Duarte - Silvio Ramão
 
Direção 
Javier Moná Lapeira
 
Direção musical 
Luiz André da Silva
 
Preparação corporal
Vivian Narvaez
 
Figurinos e cenários
O Grupo
 
Fotos 
Kiran Federico León
 
Assessoria de Imprensa
Silvia Abreu
 
Produção 
Grupo Caixa-Preta
 
Patrocínio 
Petrobras – Lei de Incentivo à Cultura – Ministério da Cultura
 
Realização
Cadon – Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves
Fundação Cultural Palmares
Grupo Caixa-Preta 
 
SERVIÇO
 
O QUÊ: Estréia de “Mãe Coragem”, com o Grupo Caixa-Preta: Diego Neimar, Gil Colares, Lucila Clemente, Ravena Dutra, Rielle Dutra, Silvia Duarte e Silvio Ramão. Direção: Javier Mona Lapeira 
 
QUANDO? Dia 24 de outubro, ás 11h, no Brique da Redenção.
 
ONDE? 
 Dia 24/10/10, domingo, às 11h, no Brique da Redenção. Porto Alegre
QUANTO? Entrada franca
 
CONTATOS COM O GRUPO: (51) 93022833 (Silvia) / (51) 91220222 (Silvio) 

ANTES DA COISA TODA COMEÇAR - NOVO ESPETÁCULO DA ARMAZÉM CIA DE TEATRO



Armazém Cia de Teatro apresentará seu mais novo trabalho, o espetáculo Antes da Coisa Toda Começar. A partir de exercícios e improvisações dos atores, foi criada uma dramaturgia própria, instigada pela pesquisa de uma obra humanista de matizes variadas.
No espetáculo Antes de Toda a Coisa Começar, texto inédito de Paulo de Moraes e Maurício Arruda Mendonça, os atores surgem através de portas frontais e laterais, as paredes se movem e uma banda de rock ocupa plataformas suspensas que formam o palco a cerca de dois metros do solo.
Tanto a cenografia, quanto a ocupação do espaço cênico, se transformam em protagonistas desse novo espetáculo da Armazém Companhia de Teatro, que estreia em 20 de outubro e fica em cartaz até janeiro de 2011 no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil.
A peça, 19ª montagem da companhia, narra a história do espectro de um ator. Solitário e enclausurado em si mesmo, o protagonista acaba vivendo de suas próprias memórias e lembranças. A partir daí, o espetáculo mostra todo o processo necessário para que ele se adapte à solidão e consiga arrumar uma solução para seu problema.
Ficha Técnica
Texto
: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes Direção: Paulo de Moraes Direção Musical: Ricco Viana Elenco: Ricardo Martins, Thales Coutinho, Patrícia Selonk e Simone Mazzer Realização: Armazém Companhia de Teatro
 

SERVIÇO
Data: 21 de outubro a 9 de janeiro
Horário: Quarta a domingo, às 19h30
Local: Teatro III | Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
Bilheteria/Informações: Terça a domingo, das 9h às 21h | 
Telefone: (21) 3808-2020
Ingressos: R$ 10 (inteira) | R$ 5 (meia entrada para estudantes, 
professores, funcionários e correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos)
Classificação: 14 anos
Duração: 100 min