quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

MEMÓRIA DA CENA - Parte 18

Hoje sigo (mesmo atrasado) com uma série de 30 postagens sobre os espetáculos que ficaram na minha memória, e aqui nem estou considerando melhores ou piores espetáculos, mas aqueles que deixaram imagens, sons, textos, cheiros na memória. Hoje posto mais três trabalhos.
ESPETÁCULO LOCAL
"NOS MESES DA CORTICEIRA FLORIR"
Assisti este trabalho da Usina do Trabalho do Ator em 2001. Um espetáculo simples e ousado ao mesmo tempo. Com um requintado ambiente, que colocava o espectador dentro da cena, trazia elementos da cultura gaúcha teatralizados. Uma direção requintada de Ciça Reckzieguel, com um espaço pra lá de interessante, simples e funcional de Chico Machado e um elenco caprichado que contava com Marcio Muller, Leonor Mello, Dedy Ricardo e Celina Alcântara, que por este trabalho recebeu o merecido Troféu Açorianos de Melhor Atriz. O espetáculo articulava três elementos: a trova gaúcha, o conto Anaí e a exploração de um espaço alternativo, de proximidade com o espectador. A trova serviu como mote de um olhar multifocal sobre a história que três personagens femininas contam ao público. Anita, a fiadeira; Ana, a chinoca; e Anai, a vendedora de cachaça que tem seu nome dado em homenagem à Anaí uma índia que reuniu um exército de índias e conseguiu confundir tropas brasileiras e argentinas a ponto de frustrar uma batalha. O espaço é íntimo: a casa de Anita, a fiadeira. Os espectadores erão convidados a entrar na sala da anfitriã e ali conviverem como numa casa. Oferecia-se cachaça e contava-se o causa de Anaí. Nesse jogo, as personagens transitavam em seus sonhos e desejos e o público era convidado, de forma sutil, a imaginar os desfechos da história. 


ESPETÁCULO NACIONAL
"A HORA DA ESTRELA"
Alexandre Casali que interpretava Macabéa
Este espetáculo ficou retido na memória. Achei maravilhoso! Foi através deste espetáculo que surgiu a motivação para a criação de um espetáculo que também partiu do mesmo texto da Clarice, que estreiamos no ano passado intitulado "Assovio no vento escuro". A cia. Os Bobos da corte da Bahia adaptaram para o teatro a obra "A hora da estrela" de Clarice Lispector. O mais bacana é que a linguagem escolhida foi de técnicas teatrais baseadas nos contadores de histórias e nos repentistas. (Pena que não consegui encontrar uma foto do espetáculo, então a foto aí ao lado é do ator que fazia a Macabéa.) No espetáculo A Hora da Estrela, a poética de Clarice Lispector ganhava uma nova roupagem ao ser contada por uma trupe de atores cordelistas numa feira popular. Para ganhar uns trocados, eles encenam a história de uma escritora que resolve escrever um livro. A montagem era poética, engraçada, repleta de teatralidade, três atores davam conta de todos os personagens, e como esquecer da personagem Macabéa interpretada magistralmente pelo ator Alexandre Luís Casali. Lembro também do cenário e adereços que eram pequenos móveis como casa de bonecas. Um espetáculo encantador. Além de Caíca Alves, ator e responsável pela adaptação dos textos, a companhia Os Bobos da Corte é formada pelos atores Tati Canário e Alexandre Luís Casali (ótimo ator e palhaço que pude revê-lo no espetáculo "O sapato do meu tio". A diretora é Meran Vargens, atriz, coreógrafa e professora da Escola de Teatro da UFBA. A viagem teatral pela literatura nacional conta ainda com a produção executiva de Zélia Uchôa e a iluminação de Fernanda Paquelet.

ESPETÁCULO INTERNACIONAL
"CUERPOS A-BANDERADOS"
A fartura de efeitos exibidos em cena fez de Cuerpos A-banderados um dos espetáculos mais provocadores argentinos que já assiti. Transgressora e experimentalista, Beatriz Catani, diretora e autora da peça, não se constrangeu de pôr em cena uma atriz urinando ou um ator imóvel e nu que permanecia na cena o tempo todo. O naturalismo ao extremo perseguido por Catani buscava uma nova linguagem, fugindo do convencional. Ao meio ao discurso fragmentado das três mulheres do palco, são utilizados ratos de verdade em cena e um ator representava um cadáver. Um espetáculo impactante que provocou os porto-alegrenses naquele ano de 2001.
Escrito e dirigido / Dramaturgia e direção: Beatriz Catani / Intérprete / Elenco: Susan Tale, Victoria Gonzalez Albertalli, Rosario Berman, Blas Arrese Igor



Nenhum comentário:

Postar um comentário