Gostaria de compartilhar neste post um pouco do nosso processo de criação do espetáculo "MACABÉA - Una Furtiva Lacrima", baseado na obra de clarice Lispector. Nossa caminhada iniciou no final de fevereiro, quando iniciou os nossos encontros. Nosso grupo é formado por artistas com formações diferenciadas e é isso que faz do Válvula uma equipe que tem demostrado um gás e uma vontade de aprender com esta expêriencia. Eu, Diego Ferreira, Ana Denise e Lucimaura Rodrigues temos em comum a formação em Teatro na Graduação da UERGS, Martina e Adriana tem suas formações no Curso de Teatro da Fundarte, onde puderam estudar com professores como Carlos Mödinger, Tatiana Cardoso e Jezebel de Carli, e Leonardo e Gabriela que experimentaram o Teatro nas oficinas do colégio Sinodal com professores como Marcelo Bulgareli e Janaina Kraemer. Enfim, com formações diferentes estes artistas estão experimentando, criando e aprendendo muito neste processo, que tem sido bastante revelador para nós, pois como estamos partindo de um texto não-teatral, "A hora da estrela", temos que lidar de maneira coerente quanto a isso. Iniciamos o trabalho com a leitura integral do livro e de muitos artigos que se relacionavam com a obra referida. Nossas conversas eram baseadas na obra de Clarice e de como fariamos para levar a cena uma obra tão complexa como esta. Eu fiquei responsável pela adaptação inicial, tentando transformar o texto literário em texto dramático, criando diálogos e cenas baseados nos escritos de Lispector. Este trabalho levou em torno de dois meses, até que chegou em nossas mãos o 1º esboço do roteiro, esboço que até agora tem sofrido muitas alterações, cortes, inserções de outros trechos de outras obras de Clarice, assim como de outros autores como um fragmento de "Bonequinha de Pano" de Ziraldo e textos biográficos de Clarice. A medida que os ensaios avançam, novos cortes e alterações tem sido realizadas. Não montaríamos mais uma versão fiel de A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector, mas a nossa própria obra baseada em Clarice, utilizando os seus escritos como base, importanto agora dizer de nós e de nosso mundo para o público contemporâneo, celebrar a vida através de um ser vazio que ambicionava somente viver, sem perspectiva nenhuma. Mais do que montar um texto clássico da literatura, queriamos descobrir a poesia em nós e o que temos para falar, hoje. Sem isso, não vejo muita razão para fazer teatro ou qualquer outra coisa. E a busca dessa poesia, mais do que de poemas e textos requeridos pelo espetáculo, foi a razão maior do trabalho empreendido.
Nesta primeira etapa do trabalho, o que foi mais árduo, foi realizar os cortes, de modo a reduzir a peça em mais de metade do original, mantendo a tensão dramática e cosntruir a vertigem que eu pretendia enquanto cena. No primeiro esboço estava praticamente toda a obra lá, mas com o inicio do trabalho prático fui percebendo que não poderia colocar tudo em cena, que deveria privilegiar as situações dramáticas que pudessem contar a história de Macabéa. Outra alteração importante é a transformação do narrador Rodrigo S.M na própria Clarice Lispector, ou seja, nossa história é narrada pela própria Clarice, que nos guia e nos coloca nas situações vivenciadas pelos nossos personagens.
A partir disso, comecei a cortar cenas inteiras, preservando, sobretudo, os momentos principais, em que se produzem os conflitos e a evolução da trama. "A hora da Estrela" permitiu tais cortes, pois muitas vezes algumas cenas/trechos do romance conformam uma unidade fechada e esgotam-se em si mesmas. Valem mais por sua profunda dimensão lírica ou cômica, mas não são essenciais para a evolução do enredo. Mas mesmo tendo isso em mente, todo cuidado é pouco para efetuar tais cortes.Se o critério acima tinha em vista o todo do espetáculo e a evolução pretendida por mim, outros critérios deveriam ser eleitos para definir os cortes a serem feitos em cada cena e em cada fala do original de Clarice. A maior dor surgia nesses momentos. Cada frase, cada verso, cada metáfora de Clarice é uma pérola da literatura que teimamos em querer guardar. A leitura de referenciais foram fundamentais para estabeler os critérios para tais cortes. Procurei aqui explanar um pouco sobre o processo de cosntrução do nosso trabalho, aqui neste primeiro momento sobre a construção de dramaturgia para o nosso espetáculo.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
MELO, Amanda de Souza. A Teatralidade em “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector. UFMG.
LIMA, Mariana; DIAZ, Henrique; ARAPI, Fauzi. Parceiros Apaixonados. Sala Preta. USP.
CAROLINA PISMEL, Carolina; IZE, Nara e VERÍSSIMO, Rafael. Pisando em Ovos: O Jogo narrativo do Ator. UniverCidade. RJ.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela.
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