Espaço Cênico?
Todo espaço é um espaço cênico. Em alguns, isto é notório, como nos estádios, igrejas, parlamentos, praças e, claro, nos teatros. Os lugares são pensados para abrigarem um tipo de ação, de evento, de acontecimentos pré-determinados.
Cabe ao artista manipular o ambiente físico, buscando a interação entre o observador e a imagem ambiental. Ambientes diferentes dificultam ou facilitam o processo de criação.
“Todo ambiente arquitetural é suscetível de expor, limitada estilisticamente pelo querer do arquiteto, uma cota ponderável dos acontecimentos possíveis entre os humanos; e neste aspecto se tem uma teatralidade real, o vão que a perfilhou, a equiparar-se com a rampa dos divertimentos, os espaços de toda a arquitetura a competirem com o tablado das encenações, isto é, com um setor da própria arquitetura.” (COUTINHO, 1998, p.179)
Quando advém o antagonismo na função a qual se destina o local, pode acontecer a recusa ao novo acontecimento. O desarranjo pode acarretar em uma experiência incômoda. E esse pode ser o intuito do espetáculo, ou seja, o lugar já pode impor o caráter da trama a ser apresentada, com intensidade maior ou menor segundo o gênero de espaço e o tipo de espetáculo proposto, ou a revelia de ambos.
O espaço escolhido pode oferecer significados, experiências e imagens diversificadas e até contraditórias, e pode levar o espectador em uma tarefa de se desdobrar por impressões recebidas ou já pré-estabelecidas. “Cada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua cidade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças e significados.” (LYNCH, 1997, p.01)
“O vazio do lugar está no olho de quem vê e nas pernas ou rodas de quem anda. Vazios são os lugares em que não se entra e onde se sentiria perdido e vulnerável, surpreendido e um tanto atemorizado pela presença de humanos”. (BAUMAN, 2001, p. 122)
No mundo contemporâneo, o papel do teatro ainda está em transição, já que outras formas de espetáculo se apresentam. Num mundo fluido, onde tudo caminha para a dissolução o lugar do teatro parece indefinido. Também parece confuso atuar para este público contemporâneo: pessoas cheias de vaidades, “atores sem papel”, que precisam de circunstâncias momentâneas de encenação para que não corram o risco de uma possível união afetiva. Não criam nada mais que a excitação de um desempenho momentâneo ou aquele que se prolonguem mais do que a finitude do cheiro de coisas novas, dos produtos consumidos, relacionando-se de forma inconsistente com a própria vida. Mas não podemos deixar de lembrar que a história do teatro, como toda história, está em contínua elaboração e mudança de tradição, em que cada obra se refere ao passado e indica o futuro. E que o teatro faz parte um fluxo natural de tradições dentro do processo de criação cultural que vincula a arte de nossos dias a da antiguidade.
O que não se pode perder é a autenticidade cênica que independe de lugar. “No trabalho de apropriação do espaço – e levando em consideração a sua arquitetura, a sua atmosfera e as pessoas que o circundam – conseguimos projetar novas possibilidades para as personagens. Interferências do campo tátil, olfativo e da própria geografia do espaço colaboram para a ampliação do discurso.” (REBOUÇAS, 2009, p.58).
Nenhum comentário:
Postar um comentário