A art performance ou performance artistística é uma modalidade de manifestação artística interdisciplinar que - assim como o happening - pode combinar teatro, música, poesia ou vídeo. É característica da segunda metade do século XX, mas suas origens estão ligadas aos movimentos de vanguarda (dadaísmo, futurismo, Bauhaus, etc.) do início do século passado.
Difere do happening por ser mais cuidadosamente elaborada e não envolver necessariamente a participação dos espectadores. Em geral, segue um "roteiro" previamente definido, podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. É realizada para uma platéia quase sempre restrita ou mesmo ausente e, assim, depende de registros - através de fotografias, vídeos e/ou memoriais descritivos - para se tornar conhecida do público.
A performance foi introduzida durante a decada de 1960, pelo grupo Fluxus e, muito especialmente, através das obras de Joseph Beuys. Numa de suas performances, Beuys passou horas sozinho na Galeria Schmela, em Düsseldorf, com o rosto coberto de mel e folhas de ouro, carregando nos braços uma lebre morta, a quem comentava detalhes sobre as obras expostas. Em alguns momentos, as performances de outros artistas tiveram ligação direta com as obras de body art, especialmente através dos Ativistas de Viena, no final da década de 1960.
Utilizo esta pequena introdução sobre o conceito de Performance para discorrer sobre uma ação artística de deslocamento, na qual eu pude presenciar no inicio do mês de julho em Montenegro. Tomei a liberdade de dar um subtítulo para esta ação: EXÓTICO. Pois Exótico é o que vem de outras terras. Por extensão, é o estranho, o diferente, o que quebra parâmetros a que estamos acostumados.
Deslocar-se. Cartografar. Olhar e ser olhado.
Ação Artistica de deslocamento no Parque Centenário em Montenegro durante a 3ª Expomonte. Participantes da Ação: Ana Denise Ulrich, Fabrízio Rodrigues, Pamela Irion e Patrick Aozani Moraes Fotos Daniel Finger, Vídeo Daniel Barcellos Figurinos, maquiagem e cabelos Fabrízio Rodrigues, Pesquisa Poética Fabrízio Rodrigues.
No inicio de julho, dentro da programação da Expomonte, pude conferir de perto a ação artística de deslocamento do multi-artista Fabrízio Rodrigues e sua trupe formada por Ana Denise Ülrich (Atriz do Válvula de Escape), Pamela Irion (Aluna da Oficina do Válvula de Escape) e Patrick Aozoni. Eles propiciaram aos transeuntes uma proposta diferente das propostas comumente apresentadas nesta cidade, e das propostas apresentadas em uma feira como esta.
Na verdade, a proposta tratava-se de uma performance, na qual o público era instigado a acompanhar e através de um deslocamento pensar (captar!) imagens sobre a ação e talvez reagir sobre o fato ocorrido. Através de uma simples ação, o público acompanha aqueles corpos exóticos, figuras alegóricas, produzidas e deslocadas do ambiente comum, digo deslocadas pelo fato de estarem vestidas de modo diferente, maquiadas teatralmente, estilizadas, deslocadas do cotidiano, parecendo seres de outro mundo. Mas que mundo é este, pergunto? Qual a proposta e objetivo de uma ação como esta? Qual seria a INTENÇÃO da criação deste novo mundo ficcional, mas ao mesmo tempo real, real por se tratar de uma ação cotidiana, por exemplo, fazer um piquenique, mas posso classificar como ficcional partindo de questões como: quem são aquelas pessoas que estão participando do piquenique e porque estão participando? Porque se comportam daquele jeito, de maneira quase ritualística, onde cada gesto, cada movimento é calculado, parecendo que estão sempre querendo buscar o melhor ângulo para o registro de uma foto. Seria puro exibicionismo? Não sei, creio que não, sabendo a priori que ações como esta, são embasadas em teorias e referenciais, servindo como experimento para futuros trabalhos em andamento. A arte contemporânea é instigante justamente por não entregar ao público um resultado fácil, degustável, limpo, pelo contrário, cada obra ou ação vem acompanhada de um infinito numero de signos e cada um destes signos carregados de significados. Um exemplo disso está nas Bienais de arte, onde uma maçã podre pode e é uma obra de arte contemporânea, mas onde estaria a arte em uma maça? Creio que está na rede de significados criados pelo artista, a partir dos seus referenciais, de como ele olha aquele objeto e o transforma em um objeto artístico. Nesta ação de deslocamento poderíamos enxergar através desta ótica, onde um agrupamento de artistas-performers agem e reagem entre si, mas sem uma explicação lógica, de uma leitura, de uma história. Por isso que eu mesmo ouvi reações como: o que eles querem com isso? Quem são esses malucos? Nossa, eles estão muito bonitos! Será que posso sentar junto? Algumas expressões dos transeuntes, que foram pegos de surpresa e acharam no mínimo esquisito a ação, mas por que esquisito? Talvez pelo fato de a performance não contar uma história como a das novelas, não sei, enfim! Estamos acostumados a receber demasiadas informações, a todo o momento, de todos os lados e de todo tipo, mas dificilmente partilhamos esta informação com o emissor. E é essa presença que torna toda essa loucura em um grande ato louvável, o momento da comunicação.
O engraçado desta intervenção foi perceber como o simples ato de observar pessoas se deslocando e se preparando para o seu piquenique pudesse desassossegar tanto ao público. Reparo nisso, não apenas pelo fato de muitas pessoas não sentirem-se tocadas pelas propostas de arte contemporânea, ou de boa parte dos espectadores ainda deslocarem-se de seus espaços para acompanharem aquela ação buscando paralelos com uma apresentação teatral, televisiva ou coisa parecida. Mas foi possível perceber como uma simples ação pode promover tantas reações no público.
Neste sentido, a experiência me levou a refletir sobre este gesto no mundo atual. Porém, a discussão aqui não é tão simplista, uma vez que, num mundo contemporâneo, cada vez mais individualista e virtual, as pessoas estão desacostumadas a partilhar de comunicação ao vivo e a cores. E é este tipo de comunicação que nos faz avançar e repensar várias coisas em nossas vidas, possibilitando uma impressão nova, passível de reflexão sobre acontecimentos do cotidiano. Portanto, finalizo este comentário ressaltando a necessidade de outras propostas artísticas nesta cidade que dialoguem com outras formas de expressão, reverberando na intertextualidade derivada da intersecção das mais diversas linguagens artísticas. Além disso, congratulo Fabrízio pela iniciativa por nos propiciar a experiência de refletir sobre o fato de que, ao comer e beber em um piquenique público, comemos e bebemos também os nossos padrões de conceitos e abrem-se as janelas para reflexões sobre a comunicação em uma sociedade contemporânea cheia de recursos tecnológicos, mas que se não utilizados com inteligência, não comunicam nada, comunicação esta no sentido de afetos e sentimentos.
Para conhecer o trabalho de Fabrízio Rodrigues acesse o Blog: http://fabriziorodriguesartes.blogspot.com/
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ResponderExcluirBah... minha primeira critica! Foste poético, artístico, indagador e curioso. Com toda a minha certeza utilizarei o teu texto no meu projeto de mestrado! Obrigado.
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