quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

PERSPECTIVAS SOBRE A DRAMATURGIA DE "CONVERSAS DE BOTAS BATIDAS"



Ao ter optado pelo grande desafio de direcionar a pesquisa para uma adaptação intertextual do universo do teatro do absurdo, nossa proposta prevê uma aprofundada pesquisa acerca dos autores considerados absurdistas e a partir dai tentar formatar uma nova dramaturgia partindo destes referenciais. 
A dinâmica do nosso processo se estabelece através da leitura dos textos de autores como: Samuel Beckett, Fernando Arrabal, Eugene Ionesco, Harold Pinter e Lewis Carrol. Em cada texto procuramos encontrar a ideia, o núcleo que irá desencadear todo o universo criativo do novo texto. O texto original torna-se apenas um suporte criativo para a nova montagem. Neste contexto, são bastante esclarecedoras as palavras de Roubine ao comentar a grande contribuição que André Antoine faz ao rejeitar a ortodoxia em matéria de encenação e defender 
"o direito do encenador de sustentar um discurso diferente daquele da    celebração da obra-prima. A direção não é mais (ou não é mais apenas) a arte de fazer com que um texto admirável emita coloridos reflexos, como uma pedra preciosa; mas é a arte de colocar esse texto numa determinada perspectiva; dizer a respeito dele algo que ele não diz; pelo menos explicitamente, de expô-lo não mais apenas à admiração, mas também à reflexão do espectador..." (Roubine, p.p cit. 41)
   O texto de "Conversa de botas batidas" é apenas um dos aspectos analisados do processo criativo. Ele é uma recriação deste universo, sendo a confluência de muitos outros autores e influências diversificadas. a dinâmica do processo tem se instaurado assim: 
"pegamos a ideia central de "Esperando Godot" e elaboramos cenas completamente diferentes, com diálogos que nada tem a ver com os inventados por Beckett", e assim seguimos com os textos de Arrabal, Ionesco, Pinter entre outros. 
Mas aí chegamosa primeira questão: Porque utilizar os textos destes autores consagrados, se não queremos fazer o que eles estão nos propondo? 
Não queremos a forma estabelecida por eles, mas o conteúdo. O que nos interessa é o que estes autores estão nos dizendo através dos seus textos, desconstruímos a forma mas mantivemos o cerne textual, recriando seus diálogos e tentando encontrar uma articulação eficaz que discorra sobre o que nós estamos querendo falar através destes autores. 
Estamos traindo Beckett/Arrabal/Ionesco/Pinter? Lógico que sim! Estamos! Toda a adaptação não deixa de ser uma traição, mas é evidente que ao tentar transpor para o palco este universo, revelamos uma concepção ideológica e dramatúrgica completamente diferente dos dramaturgos utilizados como base, pelo menos, se considerarmos esta afirmação como pressuposto geral. Entretanto se colocarmos as peças lado a lado (a dos autores pesquisados X o nosso roteiro), percebemos que tudo é, ao mesmo tempo, muito semelhante e muito diferente: é uma semelhança com diferença critica. Tem-se a impressão que é Beckett (e é), que é Arrabal (e é), pois grande parte dos episódios está lá, que a critica social se repete, que os personagens revelam a mesma motivação interna. Todavia o enfoque é outro. A radicalização é potencializada através da intertextualidade, o confronto entre discursos fragmentados de textos e seus autores, ou seja, um grande mosaico textual. Este trabalho se torna mais estimulante e desafiador, pois qualquer informação torna-se uma pista, qualquer referencia (incluindo as rubricas) são valiosas contribuições.
É como um quebra-cabeça, um jogo de encaixe, onde as peças vão se juntando e levantando o corpo desconhecido, inusitado, repleto de descobertas. É no rastro desta conduta intertextual e com o desejo de deparar-se com substanciais resultados criativos e gratas surpresas que encaramos o nosso processo.
Grupo Válvula de Escape
Referencias:
ROUBINE, Jean Jacques. A arte de Ator. 

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