domingo, 16 de janeiro de 2011

O TEATRO E SEU DUPLO - Parte 1


I - Apresentação
Antonin Artaud (1896 - 1948) lutou contra o formato e o conteúdo do teatro de seu tempo. Buscou instaurar uma nova linguagem para o teatro, reformulando o já existente e edificando uma nova proposta. O teórico Alain Virmaux apresenta na sua obra Ataud e o teatro como se estruturou o seu entendimento sobre as idéias de Artaud e de como a sua obra preconiza uma visão renovada do fazer teatral: “Atonin Artaud disse tudo em O teatro e seu duplo, da maneira mais clara possível” (VIRMAX, pag. 35).
O que pretendo com a seguinte resenha é extrair de cada capítulo do livro as idéias e propostas mais pertinentes ao processo de entendimento do teatro contemporâneo associado à linguagem proposta por Artaud. No decorrer do texto, faço também citações das reflexões que Virmaux fez do seu entendimento das propostas de Artaud.


(Foto divulgação)

II – Parte 1: O TEATRO E A CULTURA

Na primeira parte do livro, Artaud faz algumas considerações a respeito da relação dos seres humanos com a cultura, onde apresenta esta ultima como “um meio apurado de compreender e exercer a vida” (ARTAUD, pag. 18). Para ele, o teatro deve ser uma linguagem artística que rompa com todas as limitações e que represente a vida como uma eterna magia, constituindo uma arte de elementos vivos. Alain conclui que essa relação do teatro com a vida torna-se muito significativa quando Artaud fala do teatro como se falasse da própria vida e questiona se o teatro seria o duplo da vida para Artaud, pois “de fato, no final da trajetória, teatro e vida acabam em uma fusão completa” (VIRMAX, pag. 39).
Artaud busca a magia para o teatro, pois ele define o teatro como um verdadeiro passe de mágica, isto é, “é preciso acreditar num sentido de vida renovado para o teatro onde o homem impavidamente torna-se o senhor daquilo que não existe e o faz nascer” (ARTAUD, pag. 22).



III – Parte 2: O TEATRO E A PESTE


Artaud imagina o teatro como uma revelação, uma exteriorização da crueldade presente num indivíduo. Dessa maneira ele compara a revelação que se dá, através do teatro, com a peste no sentido de ver explodindo em cena todas as forças profundas e ocultas que estão em potência no interior do ator. “Como a peste, o teatro é, portanto, uma formidável convocação de forças que conduz o espírito, pelo exemplo, à origem de seus conflitos” (ARTAUD, pag. 42). O teatro, assim como a peste, leva o homem a se ver exatamente como ele é, sem máscara, exteriorizando todos os sentimentos por piores que sejam: “O teatro, como a peste, é feito à imagem dessa carnificina, dessa essencial separação. Desenrola conflitos, libera forças, aciona possibilidades, e se essas possibilidades e essas forças são regras, a culpa não é da peste ou do teatro, mas da vida” (ARTAUD, pag. 44).
Alain Virmaux, sobre a definição da peste em Artaud, diz que ela “não é a imagem do teatro, ela é o teatro (VIRMAUX, pag. 45). Dessa forma, o teatro teria em si mesmo os meios de florescimento de idéias da apresentação de um mundo superior, uma forma verdadeira de vida renovada.



IV – Parte 3: A ENCENAÇÃO E A METAFÍSICA


Nessa terceira parte, o que mais me chama a atenção e o interesse é a descrição que Artaud faz do que ele chama de “linguagem concreta” e de como essa teoria pode ser vista sob a ótica da metafísica. Para ele, a cena é um lugar concreto e físico que deve ser construída através de uma linguagem independente da palavra e que satisfaça os sentidos onde os pensamentos expressados escapam a linguagem articulada.
Artaud diz que essa linguagem concreta, antes de se direcionar ao espírito deve, primeiramente, se comunicar aos sentidos do espectador e, possivelmente, num segundo momento, ser entregue à análise racional e intelectual. Essa poesia idealizada por ele deve resultar numa combinação de todos os meios de expressão (música, dança, artes visuais, pantomima, mímica, gesticulação, entonações, arquitetura, iluminação e cenário). O formato dessa linguagem proposta pertence à linguagem dos signos, ou seja, “esta linguagem que evoca no espírito imagens de uma poesia natural (o espiritual) intensa dá bem a idéia do que poderia ser no teatro uma poesia no espaço, independente da linguagem articulada” (ARTAUD, pag. 54). Tal poesia seria a descoberta de uma linguagem ativa, que é também anárquica, onde foram abandonados os limites comuns entre os sentimentos e a palavra.
O caráter metafísico dessa poesia é o que resultaria todo o seu real valor de ser. Ao se encontrar com o tempo e o movimento é que a poesia se torna teatral sob um ponto de vista metafísico. Nesse sentido, o teatro resgataria o seu conteúdo religioso e místico que se perdeu e essa nova linguagem, proposta por Artaud, seria estruturada sob a forma de encantamento, ou seja, “fazer a metafísica da linguagem articulada é fazer com que a linguagem sirva para expressar tudo aquilo que rotineiramente ela não expressa: é usá-la de um novo modo, excepcional e incomum (ARTAUD, pag. 62).

Continua ...

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