Novo secretário quer modernizar os meios culturais do Estado
Michele Rolim e Helio Barcellos Jr.
O novo secretário de Estado da Cultura, Luiz Antonio de Assis Brasil, foi recebido de braços abertos pela comunidade cultural do Rio Grande do Sul. A esperança é grande e o escritor não pretende decepcionar. Pelo contrário, ele tem muitos projetos. A entrevista doJornal do Comércio com o escritor começou logo depois de uma reunião que ele realizou com o Conselho Estadual da Cultura. Assis Brasil voltou empolgado ao gabinete localizado no 19º andar do Centro Administrativo Francisco Ferrari. “É tão simples evitar conflitos”, declarou. A síntese de seu projeto é levar a cultura do Rio Grande do Sul ao século XXI, pois ele acredita que alguns setores se tornaram provincianos. Entusiasmado, ele conta que pretende transformar a Casa de Cultura Mario Quintana em um centro de referência de arte contemporânea e acredita que o novo Teatro da Ospa vai mesmo sair do papel.
JC Panorama - Como foi a reunião com o Conselho Estadual da Cultura?
Luiz Antonio de Assis Brasil - Muito boa! O Conselho só pode nos ajudar, é um grupo representativo de pessoas exponenciais da comunidade cultural, em que há um cruzamento de ideias, alguns mais, outros menos conservadoras, algo que o secretário tem o dever e o privilégio de poder contar. As questões que o conselho coloca são elementares, fáceis de atender. Vamos procurar também estabelecer uma isonomia entre os Conselhos da Cultura e da Educação, particularmente em questões que envolvem remuneração. Fiz parte do órgão no século passado, e nós tínhamos problemas; o da Educação tinha um valor para participar das reuniões, o da era Cultura muito menor. Agora fui lá, e continua a mesma coisa. Hoje estabeleci com o Conselho uma reunião mensal para que isso não seja apenas um episódio para que isso se transforme numa rotina.
Panorama - Como fica o Fundo de Apoio à Cultura ?
Assis Brasil - O processo está correndo, as inscrições estão abertas, as pessoas estão se habilitando. Vamos fazer a avaliação destes projetos, do qual participa o Conselho. Vou ter que agilizar algumas coisas, para que a gente possa estabelecer critérios. O teto é de R$ 30 mil por projeto, eu tenho ideia de talvez no segundo semestre aumentar para R$ 50 mil. Em princípio, serão realizados dois editais por ano. A ideia é talvez ampliar, é preciso discutir isso.
Panorama – Existem agora diretoria novas, de Economia da Cultura e da Cidadania Cultural. Quais são as atribuições?
Assis Brasil - São novidades que, de certo modo, reproduzem o modelo do Ministério da Cultura. Podemos sintetizar assim: o da Cidadania vai promover o acesso aos bens da cultura. Tem como objetivo o cidadão, não o meio, que prevê, claro, a inclusão de uma população até agora bastante excluída disso. Existe no plano federal um exemplo bastante fácil de ser entendido, a questão do Complexo de Alemão. Expulsaram os traficantes, agora entram os projetos de cultura, de teatro, de dança, de música, justamente para devolver a cidadania a toda esta população que vivia debaixo do terror. Queremos ver se conseguimos o vale-cultura estadual, não posso dizer, “vamos fazer”, mas vamos propor.
Panorama - E a função da Diretora da Economia Cultural?
Assis Brasil - Tratar prioritariamente dos assuntos que envolvem a LIC e a FAC, agora já com o status de diretoria. Outra atribuição é a questão da captação de recursos, e isso não pode ser coisa de amadores. É preciso ter pessoas preparadas que tenham a competência para operar nesta faixa da iniciativa privada.
Panorama - Os baixos valores do orçamento previsto para a pasta não o assustam?
Assis Brasil - Digamos que nós estamos operando com um orçamento (0,28%) que não foi proposto por nós, mas também não estamos lá muito longe. Eu vejo, por exemplo, o Ministério da Cultura de Portugal operando com um orçamento de 4%. Digamos, que estamos abaixo, mas não vergonhosamente do que se pratica nos países ibéricos. Claro que a gente tem que perseguir alguns objetivos, como ampliar estes valores. Estamos recebendo apoios de natureza federal muito importantes. A bancada de todos os partidos conseguiu em torno de R$ 30 milhões para a construção do Teatro da Ospa, e vamos ver se colocamos em execução erguer a Ospa, fazer com que tenha sua casa. Temos o Theatro São Pedro que está indo bem, ainda é preciso ir atrás de dinheiro, mas as coisas estão andando.
Panorama - Então o Teatro da Ospa vai sair do papel?
Assis Brasil - Sim, vamos ver se colocamos em execução. Naturalmente temos que pensar no projeto arquitetônico, temos que decidir uma questão bastante relevante, que é a questão do conceito. O projeto foi previsto para ser uma sala de concertos, no entanto, a gente tem recebido indícios da comunidade musical de mexer neste conceito, que seria incluir a apresentação das artes performáticas, ópera e balé, que precisam de palco e plateia italianos e um fosso para a orquestra. Minha opinião pessoal não conta. Claro, como ex-integrante da Orquestra, adoraria uma sala de concertos, mas tenho que reconhecer que os pedidos da comunidade cultural são relevantes.
JC Panorama - Como foi a reunião com o Conselho Estadual da Cultura?
Luiz Antonio de Assis Brasil - Muito boa! O Conselho só pode nos ajudar, é um grupo representativo de pessoas exponenciais da comunidade cultural, em que há um cruzamento de ideias, alguns mais, outros menos conservadoras, algo que o secretário tem o dever e o privilégio de poder contar. As questões que o conselho coloca são elementares, fáceis de atender. Vamos procurar também estabelecer uma isonomia entre os Conselhos da Cultura e da Educação, particularmente em questões que envolvem remuneração. Fiz parte do órgão no século passado, e nós tínhamos problemas; o da Educação tinha um valor para participar das reuniões, o da era Cultura muito menor. Agora fui lá, e continua a mesma coisa. Hoje estabeleci com o Conselho uma reunião mensal para que isso não seja apenas um episódio para que isso se transforme numa rotina.
Panorama - Como fica o Fundo de Apoio à Cultura ?
Assis Brasil - O processo está correndo, as inscrições estão abertas, as pessoas estão se habilitando. Vamos fazer a avaliação destes projetos, do qual participa o Conselho. Vou ter que agilizar algumas coisas, para que a gente possa estabelecer critérios. O teto é de R$ 30 mil por projeto, eu tenho ideia de talvez no segundo semestre aumentar para R$ 50 mil. Em princípio, serão realizados dois editais por ano. A ideia é talvez ampliar, é preciso discutir isso.
Panorama – Existem agora diretoria novas, de Economia da Cultura e da Cidadania Cultural. Quais são as atribuições?
Assis Brasil - São novidades que, de certo modo, reproduzem o modelo do Ministério da Cultura. Podemos sintetizar assim: o da Cidadania vai promover o acesso aos bens da cultura. Tem como objetivo o cidadão, não o meio, que prevê, claro, a inclusão de uma população até agora bastante excluída disso. Existe no plano federal um exemplo bastante fácil de ser entendido, a questão do Complexo de Alemão. Expulsaram os traficantes, agora entram os projetos de cultura, de teatro, de dança, de música, justamente para devolver a cidadania a toda esta população que vivia debaixo do terror. Queremos ver se conseguimos o vale-cultura estadual, não posso dizer, “vamos fazer”, mas vamos propor.
Panorama - E a função da Diretora da Economia Cultural?
Assis Brasil - Tratar prioritariamente dos assuntos que envolvem a LIC e a FAC, agora já com o status de diretoria. Outra atribuição é a questão da captação de recursos, e isso não pode ser coisa de amadores. É preciso ter pessoas preparadas que tenham a competência para operar nesta faixa da iniciativa privada.
Panorama - Os baixos valores do orçamento previsto para a pasta não o assustam?
Assis Brasil - Digamos que nós estamos operando com um orçamento (0,28%) que não foi proposto por nós, mas também não estamos lá muito longe. Eu vejo, por exemplo, o Ministério da Cultura de Portugal operando com um orçamento de 4%. Digamos, que estamos abaixo, mas não vergonhosamente do que se pratica nos países ibéricos. Claro que a gente tem que perseguir alguns objetivos, como ampliar estes valores. Estamos recebendo apoios de natureza federal muito importantes. A bancada de todos os partidos conseguiu em torno de R$ 30 milhões para a construção do Teatro da Ospa, e vamos ver se colocamos em execução erguer a Ospa, fazer com que tenha sua casa. Temos o Theatro São Pedro que está indo bem, ainda é preciso ir atrás de dinheiro, mas as coisas estão andando.
Panorama - Então o Teatro da Ospa vai sair do papel?
Assis Brasil - Sim, vamos ver se colocamos em execução. Naturalmente temos que pensar no projeto arquitetônico, temos que decidir uma questão bastante relevante, que é a questão do conceito. O projeto foi previsto para ser uma sala de concertos, no entanto, a gente tem recebido indícios da comunidade musical de mexer neste conceito, que seria incluir a apresentação das artes performáticas, ópera e balé, que precisam de palco e plateia italianos e um fosso para a orquestra. Minha opinião pessoal não conta. Claro, como ex-integrante da Orquestra, adoraria uma sala de concertos, mas tenho que reconhecer que os pedidos da comunidade cultural são relevantes.
Panorama - Qual é o projeto para a Casa de Cultura Mario Quintana?
Assis Brasil - Eu disse ao novo diretor, Marcos Barreto: “a atribuição que estou te dando é muito mais dramática que a minha de secretário. Eu estaria extremamente nervoso e preocupado”. A incumbência é dar uma cara, hoje ela não tem, é um condomínio. O que eu quero é que quando as pessoas pensem na Casa de Cultura Mario Quintana elas tenham um conceito na cabeça, a de um espaço mais contemporâneo nas artes. Tem que ser um espaço de experimentação, de discussão, um espaço para levantar polêmica, eu quero que as pessoas digam isso, “que horror o que o Assis está fazendo na Casa de Cultura”. Mas é no sentido de despertar a polêmica, e a cultura não vive sem polêmica. Acho que temos que justamente pensar a polêmica como parte essencial do processo de crescimento e transformação da cultura.
Assis Brasil - Eu disse ao novo diretor, Marcos Barreto: “a atribuição que estou te dando é muito mais dramática que a minha de secretário. Eu estaria extremamente nervoso e preocupado”. A incumbência é dar uma cara, hoje ela não tem, é um condomínio. O que eu quero é que quando as pessoas pensem na Casa de Cultura Mario Quintana elas tenham um conceito na cabeça, a de um espaço mais contemporâneo nas artes. Tem que ser um espaço de experimentação, de discussão, um espaço para levantar polêmica, eu quero que as pessoas digam isso, “que horror o que o Assis está fazendo na Casa de Cultura”. Mas é no sentido de despertar a polêmica, e a cultura não vive sem polêmica. Acho que temos que justamente pensar a polêmica como parte essencial do processo de crescimento e transformação da cultura.
JOÃO MATTOS/JC |
Uma das propostas é de reerguer o Instituto Estadual do Livro |
Panorama - A síntese de seu projeto é levar a cultura do Rio Grande do Sul para o século XXI. Quer dizer, o senhor afirma que ainda não chegou lá?
Assis Brasil - O caso é o seguinte, nós temos em alguns setores uma visão bastante conservadora, e em alguns casos se torna mais grave, provinciana, isso já nos causou muitos males: isolamento cultural, a caricatura do gaúcho que existe no resto do País, isso não nos fez bem, esse visão de que “nós temos um sistema cultural próprio”. Isso é um problema, acho no mínimo discutível essa afirmativa. E aí penso no caso da literatura, esses jovens, o que eles produzem é uma literatura desterritorializada, que diz respeito às questões do ser humano. Por que o gaúcho não pode discutir a razão da existência? Que visão mesquinha que temos da cultura. Ademais, que identidade é a nossa? Fica muito difícil falar em cultura brasileira, é preciso falar de culturas, isso ocorre também no Rio Grande do Sul, muito forte, especialmente em funções das correntes migratórias que tivemos a partir do início do século XVIII, criando culturas híbridas. Eu estou usando esse emblema de elevar a cultura ao século XXI, que apesar de ser pobre, clichê, pouco criativo, talvez seja a forma mais fácil de fazer as pessoas entenderem, por exemplo, que eu quero que a Casa de Cultura seja um símbolo dessa mudança, a de atitude cultural. Que as pessoas pensem nela e saibam que é aquilo que a secretaria está propondo.
Panorama - O Museu de Arte Contemporânea (MAC) vai ter, finalmente, um tratamento de acordo com a altura de seu nome?
Assis Brasil – O MAC vai operar junto com a Casa de Cultura, mas terá uma autonomia, dentro deste conceito. Eu tenho muito segurança que o André Venzon vá operar com êxito, já faz muito tempo que eu observo o trabalho dele.
Assis Brasil - O caso é o seguinte, nós temos em alguns setores uma visão bastante conservadora, e em alguns casos se torna mais grave, provinciana, isso já nos causou muitos males: isolamento cultural, a caricatura do gaúcho que existe no resto do País, isso não nos fez bem, esse visão de que “nós temos um sistema cultural próprio”. Isso é um problema, acho no mínimo discutível essa afirmativa. E aí penso no caso da literatura, esses jovens, o que eles produzem é uma literatura desterritorializada, que diz respeito às questões do ser humano. Por que o gaúcho não pode discutir a razão da existência? Que visão mesquinha que temos da cultura. Ademais, que identidade é a nossa? Fica muito difícil falar em cultura brasileira, é preciso falar de culturas, isso ocorre também no Rio Grande do Sul, muito forte, especialmente em funções das correntes migratórias que tivemos a partir do início do século XVIII, criando culturas híbridas. Eu estou usando esse emblema de elevar a cultura ao século XXI, que apesar de ser pobre, clichê, pouco criativo, talvez seja a forma mais fácil de fazer as pessoas entenderem, por exemplo, que eu quero que a Casa de Cultura seja um símbolo dessa mudança, a de atitude cultural. Que as pessoas pensem nela e saibam que é aquilo que a secretaria está propondo.
Panorama - O Museu de Arte Contemporânea (MAC) vai ter, finalmente, um tratamento de acordo com a altura de seu nome?
Assis Brasil – O MAC vai operar junto com a Casa de Cultura, mas terá uma autonomia, dentro deste conceito. Eu tenho muito segurança que o André Venzon vá operar com êxito, já faz muito tempo que eu observo o trabalho dele.
Panorama - Na sua opinião, qual é a missão de uma entidade como o Instituto Estadual do Livro (IEL)? É preciso dar uma chacoalhada?
Assis Brasil - O IEL eu conheço muito bem. E acho que a missão é fazer ressurgir o IEL pela segunda vez. Nós vamos de imediato restaurar o plano de edições do que foi o responsável pelo lançamento de tantos escritores importantes, como Caio Fernando Abreu. Vamos partir de modelos que funcionaram muito bem, como um projeto de Lígia Averbuck, na década de 1970. O processo era assim, primeiro era examinado, a pessoa entrava com seus originais e recebia pareceres, sendo aprovado se fazia uma licitação para as editoras comerciais publicarem. E eu acho que tem que entrar uma editoria comercial no meio disso. Depois vamos restabelecer o projeto Autor Presente, que eu tenho um carinho por ele, não fui eu que criei, mas eu dei o nome, um projeto que resulta em processo de amadurecimento de leitores e de desmistificação da figura do escritor. É uma pena que ele parou, mas é um projeto barato, faltou vontade de fazer, unicamente isso. Agora eu também estou consciente de que todas essas coisas que eu estou falando são coisas que se faz em início de governo, porque depois é mais complicado mudar rumos.
Panorama – Um dos setores que mais gritam são os atores e os bailarinos que fazem a cena teatral de Porto Alegre. Neste sentido, o Estado tem uma entidade com um nome maravilhoso, Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen), mas que está sempre à beira da inoperância. O senhor concorda? Qual o destino desta instituição?
Assis Brasil – Isso é assim mesmo, a cultura é de oposição, isso é histórico. Nós vamos amos dedicar uma atenção especial porque tem o mesmo problema de Instituto de Artes Visuais, só existe nominalmente. Então isso não pode acontecer. Isso é um problema. Vamos ter o Marcelo Restori, do grupo Falus e Stercus, que faze um trabalho altamente experimental e perigoso. Ele vai ter criatividade suficiente pra mexer com isso.
Panorama - Outra questão está ligada aos grupos de teatro do Hospital São Pedro. Eles vão novamente ser convidados a sair de lá?
Assis Brasil – Esse é um problema que não está diretamente ligado à Secretaria da Cultura, mas a secretaria vai pensar com os outros agentes que também atuam no São Pedro. É um prédio importante, imagina aquilo restaurado, inclusive, deslocando o interesse cultural para o outro lado, para o Partenon. Eu tenho pensado muito no hospital.
Panorama – Até hoje muitos artistas recebem propostas para trabalhar gratuitamente, sem cachê. E quando ganham esperam longos meses ou até eternamente pelo pagamento. Este panorama dá a impressão de que a sociedade gaúcha acredita que ser artista não é uma profissão. O senhor concorda com esta afirmação?
Assis Brasil - Até Mario Quintana dizia que “antes ser poeta era um agravante, hoje é um atenuante”. Mas o crime continua. Isso é uma mudança de geração, o que fazer? Propiciar a circulação da cultura. Eu disse hoje no conselho que eu tenho uma ideia a respeito de tudo que se refere a cultura, mas essa não deve ser a ideia da secretaria. As coisas precisam ser construídas. Eu tenho que abdicar daquilo que eu penso. Não é só uma questão da expectativa que a comunidade cultural do Estado tem de nós. O País espera o sucesso, o Ministério da Cultura espera. Sabe por quê? Nós viemos de uma série de gestões muito complicadas. Então entrou uma gestão que está tendo apoio que significa muita esperança, e o Rio Grande do Sul é observado assim, vamos ver se acontecerá alguma coisa lá, porque está para acontecer alguma coisa. Há uma expectativa nacional em torno no tratamento da cultura aqui no Estado. Não podemos errar, pois isso abala o próprio conceito do nosso Estado. A coisa não se mede só pela economia, finanças, agricultura, nós temos nossos valores simbólicos que são muito mais fortes. Claro que vamos errar, mas não podemos errar muito. (MR e HBJ).
Assis Brasil - O IEL eu conheço muito bem. E acho que a missão é fazer ressurgir o IEL pela segunda vez. Nós vamos de imediato restaurar o plano de edições do que foi o responsável pelo lançamento de tantos escritores importantes, como Caio Fernando Abreu. Vamos partir de modelos que funcionaram muito bem, como um projeto de Lígia Averbuck, na década de 1970. O processo era assim, primeiro era examinado, a pessoa entrava com seus originais e recebia pareceres, sendo aprovado se fazia uma licitação para as editoras comerciais publicarem. E eu acho que tem que entrar uma editoria comercial no meio disso. Depois vamos restabelecer o projeto Autor Presente, que eu tenho um carinho por ele, não fui eu que criei, mas eu dei o nome, um projeto que resulta em processo de amadurecimento de leitores e de desmistificação da figura do escritor. É uma pena que ele parou, mas é um projeto barato, faltou vontade de fazer, unicamente isso. Agora eu também estou consciente de que todas essas coisas que eu estou falando são coisas que se faz em início de governo, porque depois é mais complicado mudar rumos.
Panorama – Um dos setores que mais gritam são os atores e os bailarinos que fazem a cena teatral de Porto Alegre. Neste sentido, o Estado tem uma entidade com um nome maravilhoso, Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen), mas que está sempre à beira da inoperância. O senhor concorda? Qual o destino desta instituição?
Assis Brasil – Isso é assim mesmo, a cultura é de oposição, isso é histórico. Nós vamos amos dedicar uma atenção especial porque tem o mesmo problema de Instituto de Artes Visuais, só existe nominalmente. Então isso não pode acontecer. Isso é um problema. Vamos ter o Marcelo Restori, do grupo Falus e Stercus, que faze um trabalho altamente experimental e perigoso. Ele vai ter criatividade suficiente pra mexer com isso.
Panorama - Outra questão está ligada aos grupos de teatro do Hospital São Pedro. Eles vão novamente ser convidados a sair de lá?
Assis Brasil – Esse é um problema que não está diretamente ligado à Secretaria da Cultura, mas a secretaria vai pensar com os outros agentes que também atuam no São Pedro. É um prédio importante, imagina aquilo restaurado, inclusive, deslocando o interesse cultural para o outro lado, para o Partenon. Eu tenho pensado muito no hospital.
Panorama – Até hoje muitos artistas recebem propostas para trabalhar gratuitamente, sem cachê. E quando ganham esperam longos meses ou até eternamente pelo pagamento. Este panorama dá a impressão de que a sociedade gaúcha acredita que ser artista não é uma profissão. O senhor concorda com esta afirmação?
Assis Brasil - Até Mario Quintana dizia que “antes ser poeta era um agravante, hoje é um atenuante”. Mas o crime continua. Isso é uma mudança de geração, o que fazer? Propiciar a circulação da cultura. Eu disse hoje no conselho que eu tenho uma ideia a respeito de tudo que se refere a cultura, mas essa não deve ser a ideia da secretaria. As coisas precisam ser construídas. Eu tenho que abdicar daquilo que eu penso. Não é só uma questão da expectativa que a comunidade cultural do Estado tem de nós. O País espera o sucesso, o Ministério da Cultura espera. Sabe por quê? Nós viemos de uma série de gestões muito complicadas. Então entrou uma gestão que está tendo apoio que significa muita esperança, e o Rio Grande do Sul é observado assim, vamos ver se acontecerá alguma coisa lá, porque está para acontecer alguma coisa. Há uma expectativa nacional em torno no tratamento da cultura aqui no Estado. Não podemos errar, pois isso abala o próprio conceito do nosso Estado. A coisa não se mede só pela economia, finanças, agricultura, nós temos nossos valores simbólicos que são muito mais fortes. Claro que vamos errar, mas não podemos errar muito. (MR e HBJ).
Fonte: Jornal do Comércio
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