sexta-feira, 10 de setembro de 2010

LARVÁRIAS: Comunicação e desrazão.

Máscaras Larvárias são rostos inacabados, formas simplificadas da figura humana, que remetem ao primeiro estado dos insetos. Fazem parte do grupo de Máscaras inteiras e silenciosas que não permitem a voz, mas exprimem a essência da palavra falada através das ações. Podem ser jogadas tanto pelo lado animal quanto pelo humano. Têm um jogo largo, normalmente orientado pelo nariz.
Na 4ª feira, pós-feriado, assisti novamente ao LARVÁRIAS que esteve em Montenegro. O espetáculo coloca em cena seres meio bicho, meio homem-mulher, meio branco, meio preto, meio vermelho. Para mim tudo está muito ligado a natureza, ao primitivo e das imagens que ficam, o que guardo é que aqueles seres queriam é se comunicar, um com o outro, com o espaço e com os outros, neste caso a platéia. Um espetáculo em que cada espectador cria o seu próprio entendimento, buscando em seus referenciais para fazer a sua leitura, tramar a sua história, ou melhor, várias histórias. O difícil é encontrar palavras para expressar o impacto emocional que Larvárias provoca. As vezes, tinha a sensação de que aquelas máscaras falavam por si só, ou melhor, pareciam que elas alteravam as suas expressões, mas o que alterava eram os corpos dos atores, através de movimentos, ora imperceptíveis, ora bruscos, ora partiturizados. Mas não, a fisionomia das máscaras não se alterava, mas sim, a nossa imaginação, que estava se comunicando com aqueles seres, brincando junto com os atores. Quando adentramos no espaço, nos deparamos com o universo branco, quando o espetáculo inicia vemos a delicadeza da linguagem, o refinamento dos gestos, convertido em encantamento imediato.
 Sabemos que os atores-diretores fizeram especialização na França com o Lecoq e o Gaulier, e isso lógico que se reflete no espetáculo, que é pura técnica, mas não só a técnica pela técnica, mas sim a técnica pela emoção, pela desrazão e pela magia que toma conta de todos nós. Cenas belíssimas, principalmente a que encerra o espetáculo. Espetáculo de risco, pois da outra vez que estivem em Montenegro, pude experimentar as máscaras larvárias, e percebi o quanto é difícil enxergar, primeiramente, quanto mais se deslocar, e os atores fazem isso com maestria, como numa grande partitura de ações. Fui novamente para rever o Adriano, que da outra vez fez a peça com o pé machucado, estava de muletas, mas fez mesmo limitado, mas desta vez ele(s) arrasaram de novo. O espetáculo está fazendo turnê pelo Rio Grande no Palco, dentro do abençoado Arte Sesc Cultura por toda a parte. Só queria deixar registrado o enorme prazer de rever Larvárias.  



Larvárias* retrata os aspectos delicados e graciosos do cotidiano, seu humor e poesia. De um imenso mundo branco, surgem máscaras-larvas em diferentes estados e formas: figuras intermediárias que contêm o homem e o bicho, que não estão resolvidas em características humanas, mas que também não são animais. O espetáculo fala dos encontros e desencontros destes seres - seus atritos, confusões, equívocos e aproximações, ampliando o mundo fenomenal que envolve o contato entre eles. A ambientação da cena - através dos recursos da música, luz, cenário e figurino, aponta em direção aos eternos, sábios e perenes movimentos do universo, revelando que junto ao gesto diário está o movimento das marés, das estrelas, dos planetas: realidades paralelas e tangentes que, numa explosão de sensibilidade mútua, podem se inter-relacionar.
*Larvárias é um espetáculo inspirado na estética das máscaras do Carnaval de Basel (Suíça), introduzidas no universo teatral na década de 60 pelo francês Jacques Lecoq, e depois incorporadas na pesquisa de outras escolas - como a École International Philipphe Gaulier. Estes mestres desenvolveram princípios técnicos para sua utilização no espaço cênico.
 [ficha técnica]
Direção e Roteiro: Daniela Carmona
Diretora Asistente: Adriane Mottola
Composição Musical: Fábio Mentz
Atuação: Adriano Basegio e Daniela Carmona

















Postado por Diego Ferreira


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