LAVOURA ARCAICA
Gostaria de compartilhar aqui a minha grande experiência em assistir o filme Lavoura Arcaica. Digo experiência, pois o filme te permite exatamente isso: experimentar através da lente da câmera, adentrar no espaço de uma família que honra as suas tradições, e quando estas entram em desarmonia, muitas coisas podem acontecer. Filme belíssimo, que eu adiei e muito em assisti-lo, mas que não me arrependo de nenhuma de suas longas duas horas e 40 minutos de pura beleza cênica, plástica, visual, auditiva, enfim, uma verdadeira ode visual.
Lavoura Arcaica é um filme brasileiro de 2001, dirigido por Luiz Fernando Carvalho. O roteiro é baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, publicado em 1975.
Lavoura Arcaica narra em primeira pessoa a história de André, que se rebela contra as tradições agrárias e patriarcais impostas por seu pai e foge para a cidade, onde espera encontrar uma vida diferente da que vivia na fazenda de sua família. Quando é encontrado em uma pensão suja em um vilarejo por seu irmão Pedro, passa a contar-lhe, de forma amarga, as razões de sua fuga e do conflito contra os valores paternos.
Sem ordem cronológica, André faz uma jornada sensível a sua infância, contrapondo os carinhos maternos e os ensinamentos quase punitivos do pai. Este valoriza acima de tudo o tempo, a paciência, a família e a terra, fiado na doutrina cristã. Mas André não aceita esses valores. Ele tem pressa, quer ser o profeta de sua própria história e viver com intensidade incompatível com a lentidão do crescimento das plantas. Nesse trajeto, a paixão incestuosa por sua irmã Ana, e sua rejeição, exercem papel fundamental na decisão de fugir da casa da família. A mãe desesperada manda o primogênito Pedro buscá-lo para tentar reconstruir a paz familiar. Trazido de volta para a fazenda, André é recebido por seu pai em uma longa conversa e uma festa que, ao invés de resolverem o conflito, evidenciam a distância intransponível entre as gerações. Por essa razão, a história é muitas vezes descrita como uma versão invertida da parábola do filho pródigo.Realizado sem um roteiro prévio, Carvalho fez questão de utilizar o livro como fonte primária de todas as falas do filme.A trilha sonora foi realizada de maneira semelhante, com a presença do compositor Marco Antônio Guimarães, líder do grupo instrumental mineiro Uakti, durante as leituras. A música de Guimarães utiliza temas típicos da música árabe e faz uma citação d'A paixão segundo São Mateus de Bach. Muitas cenas não têm diálogos, apenas a música, que toca às vezes por vários minutos. A direção de fotografia é de Walter Carvalho, que utilizou muitos contrastes de luz e sombra e em alguns momentos deixa a imagem fora de foco, construindo uma estética quase abstrata.
O filme foi sucesso de crítica no Brasil e no exterior, tendo recebido mais de 25 prêmios em diversas categorias de festivais e mostras nacionais e internacionais. As características mais elogiadas foram a fidelidade ao texto original, a fotografia, a direção, a música e as interpretações de Selton Mello, Raul Cortez e Juliana Carneiro da Cunha, atriz que faz carreira teatral bem sucedida na Europa mas que até esse filme era praticamente desconhecida no Brasil. O filme foi considerado por muitos como um trabalho brilhante e um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos.
O filme não se tornou um sucesso do grande público e esteve em exibição em poucas salas de cinema no ano de sua estréia. Muitos atribuem isso à longa duração, à lentidão ocasionada pelas muitas cenas com ausência de diálogos ( o que eu achei ótimo), à fotografia quase abstrata em alguns momentos (linda a fotografia do filmo todo!) e à interpretação teatral (interpretação brilhante). Luiz Fernando Carvalho utiliza o perfeccionismo com grande ferramenta, sua fidelidade ao texto original (que também foi definida como subserviência ao livro), pelo uso da narração, o que torna a obra dificil para o grande público, jamais ruim, pelo contrário, extraordinária!
Lavoura arcaica foi o primeiro filme de Luiz Fernando Carvalho, que também realizou diversos trabalhos para a televisão, como as telenovelas Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Esperança (2002) e as minisséries Os Maias (2001), Hoje é dia de Maria (2005), A Pedra do Reino (2007) e Capitu (2008). O filme foi realizado inteiramente em uma locação, em uma fazenda do interior de Minas Gerais. Nela, os atores e a equipe técnica passaram nove semanas, durante as quais aprenderam a trabalhar a terra, ordenhar, fazer pão, bordar e dançar como uma família de origem libanesa. O próprio autor do texto original, Raduan Nassar, esteve presente durante esta etapa.A atriz Simone Spoladore não tem nenhuma fala no filme, mas teve uma preparação mais longa que a dos demais atores, pois teve que aprender a dançar para as duas festas que aparecem no filme. O personagem "André" é vivido por Selton Mello, mas a sua voz enquanto narra em off suas memórias é do diretor Luiz Fernando Carvalho.
"Melhor Atriz" (Juliana Carneiro da Cunha) e "Melhor Fotografia".
Festival de Montréal (2001)
§ Prêmio de "Melhor Contribuição Artística".
Festival de Brasília (2001)
§ "Melhor Filme", "Melhor Ator" (Selton Mello), "Melhor Atriz Coadjuvante" (Juliana Carneiro da Cunha) e "Melhor Ator Coadjuvante" (Leonardo Medeiros).
Mostra de Cinema de São Paulo (2001)
§ Prêmio do Público.
Festival de Cartagena
§ "Melhor Filme", "Melhor Diretor", "Melhor Fotografia" e "Melhor Trilha Sonora".
§ Festival de Havana (2001): "Prêmio Especial do Júri", "Melhor Ator" (Selton Mello), "Melhor Fotografia" e "Melhor Trilha Sonora".
ABC Trophy (2002)
§ "Melhor Fotografia de Longa Metragem".
Festival de Buenos Aires do Cinema Independente (2002):
§ Prêmio ADF de Fotografia, Prêmio do Público, Prêmio Kodak e Menção Especial para Luiz Fernando Carvalho.
Festival de Guadalajara (México - 2002)
§ "Melhor Filme", pelo juri internacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário