domingo, 12 de dezembro de 2010

ELZA SOARES - Ousadia e Potência Vocal no Planeta da fome.


O popular “quem canta seus males espanta” só é clichê porque realmente faz sentido. Em se tratando de Elza Soares, então, o dito resume milimetricamente a vida da artista.  Menina pobre criada em uma favela carioca, aos 12 anos deixou a ingenuidade pueril para trás ao casar-se pela primeira vez. Aos 13 anos já era mãe. E foi para salvar a vida do filho que a “pretinha desnutrida” - como ela mesma se via na época - encarou uma plateia que caiu em risos ao ver a garota magrinha enrolada em trapos fazendo as vezes das roupas e rebateu o músico e apresentador Ary Barroso, que indelicadamente questionou de que planeta Elza havia chegado: “Do mesmo planeta que o senhor, o planeta fome”, desconcertou a futura cantora.
A apresentação no show de calouros lhe rendeu muito mais que a nota máxima e dinheiro. A voz rouca que encantou o público mostrou a força da cantora - que, como se não bastasse, ainda teve que improvisar, pois a banda executou a canção em um tom acima do que havia sido ensaiado. Ela saiu do programa de rádio fadada a ser estrela.
Logo que começou a cantar na televisão, médicos e especialistas instigados com a voz que saía daquela garganta realizaram diversos estudos e sentenciaram: apenas mais três meses de potência vocal. Felizmente eles estavam errados. Focar a voz da cantora é o que faz o documentário Elza, que estreia nesta terça no Cine Bancários (General Câmara, 424) com sessões diárias de terça a domingo: às 15h, 17h e 19h.
Dirigido por Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan, o filme mostra a Elza artista, sem prender-se em questões pessoais que já foram tão debatidas na sociedade. “Achamos que era importante retratá-la musicalmente, ressaltar o talento. Em relação à vida privada abordamos alguma coisa para dar um contexto de quem ela é, mas não era ao nosso foco. Não fizemos o filme porque ela é a Elza da revista de fofoca. Fizemos porque ela é uma intérprete que achamos inigualável e que tem uma força muito grande dentro da música brasileira”, explica Izabel.
Produzido durante um ano, o documentário traz depoimentos de pessoas ligadas à carreira de Elza. Elton Medeiros, Hermano Vianna, João de Aquino, José Miguel Wisnik, Mart’nália, Professor Júlio (Xangô do Salgueiro), Roberto Silva e Vó Maria comentam toda a trajetória e relevância da artista. Somam-se a eles Caetano Veloso, Maria Bethânia, Paulinho da Viola e Jorge Ben Jor que, além de falar, apresentam canções com a própria cantora que foram fundamentais em seu caminho. “Foram uma maravilha esses encontros, a gente se ama muito. Além de amor existe um respeito muito grande de amizade entre nós. Foi muito bom”, conta Elza Soares sobre as gravações.
Acompanhando uma tendência do cinema nacional em resgatar artistas importantes do País e levar suas histórias para a tela, Elza se difere do ponto de vista da concepção. De acordo com a diretora, o conceito de trazer um cenário pensado onde ocorrem os depoimentos e os encontros com a cantora é a grande ousadia do filme, o que imprimiu uma ideia autoral à produção. “Achamos interessante fazer algo em que tivéssemos mais recursos para administrar, no sentido da direção de arte e fotografia. Esse conceito de criar um ambiente que você tem um controle da luz, da cenografia, permite embocar assuntos dentro daquela atmosfera. Isso acaba sendo mais autoral porque você está controlando e não apenas seguindo pelo fluxo normal da pessoa. Hoje é muito mais comum e aceito você fazer um documentário como se fosse um Big Brother no sentido de seguir o cotidiano”, revela a diretora.
Foi misturando jazz ao samba, negando rotulações, indo do pop ao tradicional sem medo, improvisando e (en)cantando que Elza Soares superou o destino e reinventou seu caminho. “Não pode fazer, não pode fazer...Aí mesmo que eu vou lá e faço e me dou bem”, conta a artista em um determinado momento do filme. Questionada sobre o que ela canta, não titubeia em responder: “O que vier a gente canta. Eu gosto de músicas ousadas”. Elza Soares gosta mesmo é da vida.
Fonte:  JCRS. 

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