segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

OLHAR (es) DA CENA por TUTI KERBER


Assovio...

Numa noite de dezembro fui à Estação. De alma limpa e aberta, para ver o trabalho de amigos atores, curiosa em apreciar o que tinham pesquisado e construído. Pois me surpreendi! A maneira como utilizaram o espaço, desde a rua até o porão. A “Madame” recepcionando e vendendo os ingressos. Confesso que num primeiro olhar não reconheci a Ana. Já no porão, a sensação de estar dentro da história e sofrer junto com a autora. Que sufocante deve ser ter as idéias e ter de colocá-las no papel, de forma a ser legível aos olhos de leitores. Ver a Maura em cena é muito bom, sempre. Ver a Ana Denise foi marcante, pois existe uma construção de personagem muito boa, muito envolvente. Minha maior surpresa foram Gabriela e Leonardo, que conheci há alguns anos, bem pequerruchos, e agora dando show no “palco”. 
O grupo todo estava numa energia que me levava junto com a história, mesmo os “não-atores”, digamos assim, fazendo seu papel e envolvidos na trajetória de Macabéa. E quem não é um pouco de Macabéa de vez em quando? “Eu me dôo por dentro...” Quem não sofre às vezes pelo simples fato de... existir?
Bem, vamos a algumas considerações técnicas, uma vez que esse olhar me foi pedido. A utilização dos espaços, desde a rua te a última cena foi muito boa. Sugiro explorar mais a luz na cena das duas Macabéas e no WC. Senti vontade de saber o cheiro do cigarro da autora, talvez um odor doce. No WC também, talvez um cheiro de desinfetante, de desodorante spray, e mais caracterizações, mais papel, mais toalhas... Isso porque a primeira cena e a casa da Madame tem um ambiente mais preparado, mais explorado quanto a luz e objetos, entende?  
Sugiro uma leve maquiagem como lápis no olho e batom cor de boca, pois a Madame é “super produzida” enquanto os outros personagens estão de rosto nu. Sim, a proposta do rosto nu funciona, mas num todo, destoa da personagem da Ana. A escolha dos figurinos foi feliz, desde a semelhança das Macabéas até a contra-regragem/atores.
Quanto à direção, achei que o Diego ficaria traumatizado depois de aturar as “véias” Wilma e Elza por meses! Hehehehe. Brincadeira. Eu sabia que veria trabalho, dedicação, pesquisa. E vi. O Diego é um diretor muito dedicado, posso dizer isso por experiência própria. E a maneira como orientou o grupo, adaptação do texto, tudo tinha um olhar preocupado e cuidadoso, com a “cara” de Diego Ferreira.
Foi uma experiência feliz que quero repetir em 2011, se possível, revendo o “Assovio...” ou, quem sabe, me maravilhando com um novo trabalho do grupo. Parabéns e muita MERDA! 

Tuti Kerber é atriz e professora graduada em Teatro pela Uergs. Atuou e dirigiu diversos espetáculos entre os quais: "Wilma e Elza" com direção de Diego Ferreira, "O Rei Cego", "Cordão Umbilical", "O Bilhete premiado" entre outros.


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