segunda-feira, 3 de setembro de 2012

CINCO TEMPOS PARA A MORTE - Comentário Crítico


O Grupo U.T.A - Usina do Trabalho do Ator foi o grande homenageado do FITE - Festival Internacional de Teatro Estudantil que aconteceu em Porto Alegre. E encerrou o festival com seu mais recente espetáculo "5 tempos para a morte". 
O UTA completa neste ano 20 anos de trabalho continuado e de pesquisa. Acompanho o grupo através de seus espetáculos, dos quais já assisti: "O Marinheiro da Baviera", "Nos meses da corticeira florir", "A mulher que comeu o mundo" e agora este "5 tempos para a morte", e o que permeia estes trabalhos é a investigação  do trabalho do ator e as possibilidades da presença em cena. 
O espetáculo "5 tempos para a morte" é um trabalho sensível, que através de poesia imagética lança possibilidades sobre o tema da morte. O espetáculo já trás no seu enunciado "cinco tempos", a possibilidade  de cinco versões e variações para a abordagem do tema e até certo modo consegue sustentar isso, através de: cinco atores, cinco depoimentos, cinco armários/módulos que compõem o cenário, repetições de ações, enfim, várias possibilidades que poderiam se esgotar nisso. Mas o espetáculo vai muito além e está longe de se esgotar, principalmente por causa de sua estrutura dramatúrgica, que privilegia a poesia de imagens, onde o texto é fragmentado e não é utilizado enquanto força motriz. 
As imagens provocam o imaginário, as figuras evocam o estranhamento de um mundo onde o onírico se constrói frente aos nossos olhos. 
O tempo é dilatado, outro elemento que torna o espetáculo encantador, pois a ação da peça desencadeia-se num outro tempo, privilegiando cada ação, cada detalhe, um tempo ralentado porém recheado de intensões. 
A plasticidade da cena é de uma grande beleza, o cenário imponente é mais um corpo jogando em cena, e sua presença possibilita a criação de cenas memoráveis, através dos dispositivos, da movimentação e da sua máxima utilização. 
A trilha sonora cria um ambiente propicio para o desfile destas figuras transfiguradas, coroando a encenação e provocando o espectador através dos climas e possibilidades de jogo que se instaura através de sua inserção. 
Mas tudo isso se concretiza através do coletivo UTA, seu diretor Gilberto Icle que é um verdadeiro maestro, pois consegue me provocar através de uma rede de significados onde não é a palavra que me guia, mas sim a presença e ação dos atores. 
E por falar neles, não poderia deixar de citá-los, onde poderia cometer a injustiça de destacar a atriz Gisela Habeyche, pois a sua persona, é a que tem o dom da palavra, da verbalização, mas como eu já tinha dito anteriormente que não é a palavra que me guia neste espetáculo, não poderia me contradizer e deixar de destacar a PRESENÇA de Celina Alcântara, Dedy Ricardo, Ciça Reckziegel, Thiago Pirajira e lógico de Gisela Habeyche que preenchem a cena com suas vozes (e que vozes!), seus corpos e o compartilhamento de suas histórias, para tratar de um tema bastante recorrente, mas de modo original, criativo e tocante. E a cena final, além de surpreender comprova a beleza e poesia que permeiam todo o espetáculo e por que não dizer, que atravessa toda a trajetória do grupo UTA. 
Parabéns ao Fite pela acertada escolha, pois creio que o UTA representa bem essa questão do fazer artístico aliado ao fazer pedagógico que é comprovada através de suas ações e de sua equipe onde se evidencia esta dualidade professor-artista. Vida longa a pesquisa teatral. Vida longa ao UTA. 

Ficha técnica

Elenco: Celina Alcântara, Ciça Reckziegel, Dedy Ricardo, Gisela Habeyche e Thiago Pirajira.
Direção: Gilberto Icle
Assistência de Direção: Shirley Rosário
Iluminação: Bathista Freire
Figurinos e Cenografia: Chico Machado
Acessórios Cênicos: Marco Fronckowiak e Maura Sobrosa
Músicas: Flavio Oliveira
Produção: Anna Fuão
Fotos: Claudio Etges

Confira este e outros textos em Olhar(es) da Cena







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