Foto: Rique Barbo |
Heiner Müller e a Poesia Imagética
IMAGINE... É a primeira palavra dita em cena... e é assim que eu tentei me comportar diante do espetáculo "Descrição de uma imagem"... Imaginando... Imaginando e me deliciando através da profusão de imagens propostas pela concepção do Grupo Barraquatro.
O teatro de Heiner Müller ultrapassa o drama através de rupturas, e o que ele escreve já não pode ser considerado uma peça dramática, mas sim uma peça teatral, e é justamente isso a que assistimos nesta encenação sob a direção de Júlia Rodrigues, não temos um espetáculo que toma para si o texto controverso de Müller, mas sim uma concepção que se utiliza da teatralidade e de uma multiplicidade de imagens que não procura a literariedade do texto aberto de Müller, mas sim o potencial teatral da obra.
A direção de Júlia Rodrigues foi precisa justamente neste sentido, conseguiu explorar os signos da obra sem ser piegas, através de repetições e variações,conseguiu criar uma "poesia imagética" que ao mesmo tempo é bela, é bruta, é surreal, é atemporal, é sexual, mas acima de tudo é humana. Pois o espetáculo mexe com nossos sentidos, nos trás um universo onírico que nos reporta a outros lugares, e é justamente aí que a iluminação de Bathista Freire é extremamente eficiente e bela, pois auxilia na composição deste universo, construindo climas e atmosferas que conferem a cena uma beleza impar.
A trilha sonora de Ricardo Pavão, além de linda e executada parcialmente ao vivo, nos coloca lado a lado daqueles seres. São melodias, notas, sussurros e sobressaltos que não destoam do todo, pelo contrário, me aproxima da narrativa. Já o cenário de Élcio Rossini que trás poucos elementos, ratifica esse universo e acentua através de suas construções essa vertente que faz do signo e da metalinguagem o seu chão. São elementos cenográficos que ganham vida através da manipulação dos atores.
O elenco composto por Thiago Pirajira, Kayane Rodrigues e Kyky Rodrigues conseguem através de seus corpos construir um belíssimo espetáculo, repleto de imagens lindas, pois é bastante acentuada a fisicalidade da cena. Seus corpos é que montam este painel de imagens poéticas. O ator e sua presença é que nos reportam a outros espaços. A construção explora muito bem esse ator que não mergulha na psicologia do personagem, pelo contrário, se utiliza da forte presença física para compor o espetáculo. Coeso e muito bem dirigidos, triunfam em cena e tornam esse encontro com Heiner Müller uma experiencia teatral única e inesquecível.
Direção Júlia Rodrigues
Atuação Thiago Pirajira e Kayane Rodrigues
Participação: Kyky Rodrigues
Figurinos Letícia Pinheiro e Isadora Fantin
Cenário Elcio Rossini
Iluminação Bathista Freire
Trilha Sonora Ricardo Pavão
Preparação Corporal Dagmar Dornelles
Produção Executiva Dani Dutra e Kyky
Direção de Produção: Cecília Daut – Cristallo Produções
Realização Grupo Barraquatro
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