domingo, 16 de março de 2014

INCÊNDIOS (RS)


Dias 20, 22 e 23 de Março - 21hs
Theatro São Pedro

MARIETA SEVERO É PROTAGONISTA DA PRIMEIRA MONTAGEM NO BRASIL DO PREMIADO AUTOR LIBANÊS WAJDI MOUAWAD 

A escrita de Wajdi Mouawad é marcada por situações devastadoras: guerras, exílios, perdas e injustiças. Não à toa, ‘Incêndios’ (2003) é o título de seu mais celebrado espetáculo, com dezenas de prêmios, elogiadas produções ao redor do mundo e um longa-metragem homônimo, dirigido por Denis Villeneuve e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. 
A engenhosa carpintaria de Mouawad despertou a atenção da atriz para a saga da árabe Nawal, cuja vida é atravessada por décadas de uma guerra civil que parece nunca ter fim. Ela passa seus últimos anos em voluntário exílio no Ocidente, onde morre e deixa em testamento uma difícil missão para seu casal de filhos gêmeos (Felipe de Carolis e Keli Freitas): encontrar o pai e também um irmão perdido em seu remoto passado no Oriente.
‘É a história de três destinos que buscam suas origens, em uma tentativa de solucionar a equação de suas existências’, resumiu Mouawad na apresentação da primeira montagem da peça. A trajetória da protagonista encontra paralelo na vida do autor, nascido no Líbano, mas radicado no Canadá desde a década de 80. Encenado com sucesso em 15 países, ‘Incêndios’ chegou às mãos de Marieta e Aderbal através do ator Felipe de Carolis, também produtor da atual montagem junto com Pablo Sanábio e Maria Siman. 

O jogo teatral e a tragédia contemporânea
Responsável por sublinhar o caráter assumidamente teatral de recentes montagens como ‘Jacinta’ (2012), ‘Hamlet’ (2008), ‘As Centenárias’ (2007) e ‘O Púcaro Búlgaro’ (2006), Aderbal se viu estimulado pela dramaturgia de Mouawad: ‘Os textos são altamente poéticos ao falar das tensões entre homem e sociedade. Mesmo situando os personagens e ações em um contexto real, a peça não localiza geograficamente a ação, apenas sabemos que se trata de Ocidente e Oriente, as cidades têm nomes inventados e datas de fatos históricos são modificadas’, comenta. 

A conhecida adaptação cinematográfica da peça pode sugerir uma maior adequação da história ao cinema. No entanto, Aderbal acredita que o teatro é o meio de expressão ideal para 'Incêndios': 'Não só por ter sido concebida como uma peça de teatro e pela ilusão do teatro permitir mais liberdade ao entrelaçamento das ações, como também pelo fato do cinema ter abdicado de alguns valores importantes da peça original. Personagens e cenas fundamentais, por serem mais adequados ao teatro, foram cortados do filme, que nem por isso deixa de ser um grande filme', afirma o diretor. Marieta vai interpretar a protagonista da juventude aos momentos finais, passando por episódios dramáticos, como a adesão à guerrilha, a incessante busca pelo filho perdido e as dificuldades de ser mulher na região. ‘É o desafio de fazer um épico, explorar as possibilidades deste gênero e interpretar as variadas idades e fases da personagem’, avalia a atriz. A seu lado, além de Felipe de Carolis e Keli Freitas, estão Márcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza, Isaac Bernat e Julio Machado.

Crueldade e ternura em um contexto desumano
Ao longo do processo de ensaios, a produção organizou uma série de workshops para o elenco com historiadores, filósofos e especialistas em conflitos do Oriente Médio. Mesmo sem ter um local específico, o universo árabe é discretamente ambientado em cena, com ajuda dos figurinos de Antonio Medeiros e a cenografia de Fernando Mello da Costa, parceiro de longa data de Aderbal. 

A concepção do espetáculo se vale da própria poética da cena para expressar as situações reais criadas pelo autor. ‘O palco infinito pode ir de um continente a outro e de um tempo a outro, desde que o conjunto da encenação desperte a imaginação do espectador e é isso que as atrizes e os atores de 'Incêndios' têm como objetivo. Em um cenário de grande impacto plástico em sua simplicidade, o talento do elenco queima no mesmo fogo a realidade e a ilusão’, diz Aderbal.

Este é mais um incêndio entre os vários – literais e metafóricos – que acontecem durante a busca do casal de gêmeos pelo passado da mãe no outro lado do planeta. Ao se deparar com suas origens, eles vêem o fogo da guerra – mesmo depois de seu fim – agir implacavelmente em suas vidas. 

Mouawad constrói uma intrincada teia de relações, segredos e sentimentos. ‘’Incêndios’ não é propriamente uma peça sobre a guerra, mas sobre promessas que não são cumpridas, sobre tentativas desesperadas de consolo, sobre maneiras de se permanecer humano em um contexto desumano’, resumiu o autor após receber o Prêmio Molière pelo texto. 

WAJDI MOUAWAD
Wajdi  Mouawad nasceu no Líbano em 1968. Aos 10 anos, deixou seu país natal devastado pela guerra e partiu para Paris com a família. Em 1983, se mudou para o Canadá (Montreal). Em 1991, logo depois de se formar na Escola de Teatro Nacional, embarcou em uma carreira polivalente como ator, escritor, diretor e produtor. Em 1998, sua criação ‘Protágoras  trancada  no  banheiro’ é votado como a melhor produção de Montreal pela Associação de Críticos de Teatro Quebec. 

De 1990 a 1999, co-dirige a Companhia de Teatro Ô Speaker. Ao mesmo tempo, escreve ‘Litoral’, anterior a ‘Incêndios’, que unidas a outras duas peças formará a tetralogia denominada por ele como ‘Sangue das promessas’. O espetáculo ‘Litoral’ rendeu-lhe reconhecimento e dois importantes prêmios: Prêmio Literário Governor General’s Literary Award de melhor texto teatral em 2000 e o Chevalier de l'Ordre National des Arts et dês Lettres, na França, em 2002. Mas é em 2003, com o espetáculo ‘Incêndios’ que arrebata a crítica e leva todos os principais prêmios.

De 2000 a 2004, dirigiu o Teatro dos Três Vinténs em Montreal. Em 2005, fundou duas companhias especializadas no desenvolvimento de novos trabalhos: Abé  carré  cé  carré, no Canadá e Au carré de l'hipotenuse, na França.

Nos últimos 15 anos, Wajdi  Mouawad se estabeleceu como um original e singular encenador do teatro contemporâneo, aclamado por suas narrativas diretas e firmes, em encenações de estética precisa e potente. Em todos os seus trabalhos, peças de sua autoria (‘Tideline’, ‘Scorched’, ‘Forêts’ e ‘Ciels’, dentre outras) e adaptações (‘Viagem ao fim da noite’, de Céline; ‘D. Quixote, de Cervantes’), produções que dirigiu (‘Macbeth’, ‘As troianas’ e ‘As três irmãs’), dois romances (‘Visage retrouvé’ e ‘Anima’), Wajdi Mouawad expressa a convicção que a ‘arte se porta como testemunha da existência humana através do prisma da beleza’.

Suas peças foram traduzidas em mais de quinze  idiomas e apresentadas em vários países, incluindo a Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha, Japão, México, Austrália e Estados Unidos.

‘Incêndios’ foi adaptado para o cinema e dirigido pelo canadense por Denis  Villeneuve, tendo sido indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Prêmios recebidos por ‘Incêndios’: 
Prêmio Jacqueline Déry-Mochon (Canadá) 
Prêmio SACD (comissão de países de língua francesa) – França
Prêmio Sony Labou Tansi (Canadá) 
Premio Molière (França) 
Prêmio Escolha da Crítica (Bélgica) 
Grande Prêmio da Academia Francesa de Teatro (França) 

FICHA TÉCNICA
De Wajdi Mouawad 
Tradução: Angela Leite Lopes 
Direção: Aderbal Freire-Filho 
Com Marieta Severo, Felipe de Carolis, Keli Freitas, Marcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza Julio Machado e Isaac Bernat 
Cenografia: Fernando Mello da Costa 
Iluminação: Luiz Paulo Nenen 
Figurinos: Antonio Medeiros 
Trilha Sonora: Tato Taborda 
Direção de Produção: Maria Siman 
Produção Executiva: Luciano Marcelo 
Produtores: Felipe de Carolis, Maria Siman e Marieta Severo 
Produtor associado: Pablo Sanábio 
Idealização do Projeto: Felipe de Carolis 
Realização: Emerge, Primeira Página Produções e Teatro Poeira

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