Na última segunda feira (04 de Outubro) fui assistir ao espetáculo "Dar Carne à Memória" uma celebração da obra coreográfica de Eva Schul, dentro da programação cultural do Seminário de Arte Educação que acontece até 5ª feira na Fundarte em Montenegro. Embora eu não esteja participando do Seminário, fui ao teatro com a curiosidade de assistir de perto a este espetáculo que tem arrancado diversos elogios da crítica , além de prêmios, como o Brasken para o Eduardo Severino. O teatro estava completamente lotado para assistir a peça que que faz uma revisão de mais de trinta anos de carreira de Eva Schul dedicados a coreografia, sem dúvida é um ponto alto da temporada do Estado.
Dar carne à memória é materializar, recordar a memória do corpo. Como diria Stalislavski "não podemos memorizar os sentimentos e emoções, somente podemos memorizar as ações físicas". E sinto isso neste maravilhoso trabalho, lógico que em suas devidas proporções, tratando-se de um espetáculo de dança. Mais que isso, é um jogo de alusões, porque a dança vive do corpo e, portanto, “dar carne à memória” é, trazer ao presente memórias vivas, físicas, marcas. Marcas que se traduzem em coreografias, mas que também atravessaram a vida dos interpretes, e um belo exemplo destas marcas podemos vislumbrar no solo em que a magnífica Cibele Sastre executa. Antes de dançar , Cibele entra com uma sacola, de onde tira vários objetos como papéis, uma fita k7 entre outros, e dialoga com o público de modo tão natural, que parece que não faz parte daquele espetáculo sabe, tão natural é o modo em que ela expõe aquelas marcas, histórias e lembranças de outros tempos da sua trajetória e da trajetória de Eva Schul que emociona só de escutar, imagina então vivenciar. Logo em seguida, Cibele mostra a sua obra, seu solo que foi inspirado em uma música que tem uma história muito bacana e que você precisa assistir ao espetáculo para ver o que eu estou falando. Leveza, domínio de movimentos e espaço, força e poesia, fazem parte do solo de Cibele. E eu que passei cinco anos dentro da universidade, passando diariamente pela Cibele, mas infelizmente ainda não tinha a oportunidade de assisti-la, fiquei emocionado e honrado pela Uergs ter uma professora com tamanho potencial, lógico que já tinha escutado e muito falar dela, mas pessoalmente ela arrasa!
Como pode se ver Eva Schul era visionária. Sim, pois suas coreografias são ousadas, tanto para a 30 anos atrás, quanto ao presente, pois ela consegue explorar diferentes possibilidades corporais com simplicidade, risco e desafios.
Como pode se ver Eva Schul era visionária. Sim, pois suas coreografias são ousadas, tanto para a 30 anos atrás, quanto ao presente, pois ela consegue explorar diferentes possibilidades corporais com simplicidade, risco e desafios.
O programa desta noite foi entrecruzado de vários solos e finalizado com uma coreografia coletiva. Inicia com um vídeo em que Tatiana da Rosa dança lindamente grávida o solo "Do Branco", em seguida temos Monica Dantas executando "Caixa de Ilusões", seguido por Eduardo Severino em "Ser Animal", demonstrando que Severino é sem sombra de dúvidas um dos melhores bailarinos do Brasil. Depois assistimos o solo de Cibele Sastre, "O Fio Partido" com a música de Bessie Smith na voz de Dinah Washigton e encerrando a noite em grande estilo com o coletivo "Hall of Mirrors", em que se utiliza de um jogo de espelhos, criando metáforas sobre o reconhecimento social. Aliás esta última, é arrebatadora, pois mostra a brilhantismo de Eva Schul, quanto utiliza o espelho para provocar sobre a relação entre "eu e outros", "eu e eu" e "como o meu eu se relaciona dentro desta aldeia humanóide", ou seja, o individuo preso dentro desta cadeia social, onde o que eu faço provoca o outra, reflete e respinga em outros . O efeito das silhuetas de pvc é extraordinário, lógico que a presença dos bailarinos é magnífica. Puxa, será que não vou cansar de parar de elogiar este espetáculo? Não, não vou, pois não sou crítico nem de teatro, nem de dança, mas quando você assiste a algo que te comove e te provoca, a melhor coisa que se tem a fazer é escrever, escrever e escrever. Esta maravilhosa obra só vem a confirmar a grandeza do trabalho desta coreógrafa frente a Ânima Cia de Dança, que não só reafirma todo o seu potencial, como reacende a chama e o gostinho de quero mais, Eva faz mais um espetáculo, só para a gente se emocionar e se deliciar novamente. Valeu muito apena! Parabéns a toda equipe técnica e especialmente ao meu amigo João Nunes que com sua dança ajuda a criar este espetáculo provocador.
Postado por Diego Ferreira - Diretor do Grupo Válvula de Escape - Graduado em Teatro na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. escapeteatro@bol.com.br
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