Ode a leitura sem cair no mero didatismo | |
Foto: Vilmar Carvalho Tive a grata surpresa de assistir ao espetáculo "O Vendedor de Palavras" do Grupo Mototóti de Porto Alegre, em sua apresentação de nº 172, dentro da programação da Feira do Livro de Montenegro. E não poderíamos ter no palco de uma feira de livro, espetáculo mais apropriado do que este. "O Vendedor de palavras" é uma ode ao incentivo a leitura, mas vai muito além disso. Vai além porque poderia ser apenas um espetáculo que tem a leitura como mote e se estruturasse em torno disso, mas não, alerta, provoca e estimula o incentivo a leitura, sem cair no mero didatismo.
O que nos fica é a qualidade teatral alcançada pelos Mototóti, que num espetáculo breve consegue cativar a nossa atenção. O cenário a primeira vista é uma biblioteca que aos poucos vai se transformando em vários espaços como um pier, mesa, um trem, etc... Outro atrativo são os figurinos que estampam também idéias que remetem a leitura, permitindo a multiplicidade das personagens e não perdendo o caráter funcional, identificando os vários tipos que aparecem na cena: Adam, o avô inglês, Odete, a avó alemã, Milho e Espiga. Destaque também são os adereços utilizados na cena, que são ricos em detalhes, auxiliando assim a compreensão de todos, um exemplo de teatro popular. A montagem é recheada de teatralidade, se utilizando de diversos recursos que evidenciam a cena construída e transformada ali mesmo na cena, sendo que o espectador reconhece que aquilo que estamos presenciando é teatro, mas ao mesmo tempo consegue embarcar e acreditar na história. Isso tudo se expressa na transformação do cenário, na musicalidade da cena como a sonoplastia do trem e até mesmo na ótima cena feita com a presença de um boneco que confere a esta montagem este universo mágico e poético. A dupla de atores é o grande mérito de "O Vendedor de palavras" pois conseguem imprimir ritmo e beleza sem cair no pieguismo. Conseguem construir figuras de fácil assimilação popular centrados no trabalho de atores qualificados que são, já comprovados em outros trabalhos e aqui potencializados com o auxilio dos figurinos e máscaras, além da gestualidade ampla e limpa, aliados a um potente trabalho vocal, comprovado na apresentação da feira de Montenegro, onde começaram o espetáculo com microfones e devido a problemas técnicos os mesmos deixaram de funcionar, o que ao meu ver não atrapalhou em nada, pelo contrário, somente veio a somar, alertando que o trabalho de atores bem preparados resulta nisso, mesmo em situações não esperadas, conseguem se superar. As vezes, o casal Milho e Espiga me remete a outro casal famoso: Romeu e Julieta, pela forma poética que são construídas as personagens. Uma história de amor onde a paixão as palavras os remetem a outros mundos, e possibilitando uma reflexão acerca da necessidade da leitura em nossas vidas, mas também a necessidade e manutenção do amor em nossas relações.Destaco a cena do vendedor ambulante que é hilária e a cena do encontro e primeiro beijo do casal Milho e Espiga. Parabéns ao dramaturgo Rodrigo Monteiro que transpôs a crônica de Fabio Raynol para o teatro, tarefa quase sempre complicada, que é equacionar linguagens distintas, mas que neste caso resulta numa boa adaptação, num espetáculo curto e bem resolvido. E ainda temos a presença de outros profissionais que garantem a qualidade do trabalho como a direção da competente Arlete Cunha, além de Zoé Degani, Coca Serpa entre outros. |
Direção: Arlete Cunha
Dramaturgia: Rodrigo Monteiro
Trilha Sonora Original: Fernanda Beppler
Cenografia: O Grupo com a colaboração de Zoé Degani
Máscaras e Boneco - criação e confecção: Paulo Martins Fontes e Eduardo Custódio - Cia Gente Falante Teatro de Bonecos
Figurinos: Coca Serpa
Desing Gráfico: Carlos Alexandre
Produção e Realização: Grupo Mototóti
Conheça mais sobre o Mototóti em seu BLOG e no SITE.
Que lindo texto, Diego! Obrigado mesmo pelas palavras. Sem dúvida, esse é um grande pequeno espetáculo! Um abraço!
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