sábado, 28 de janeiro de 2012

DRAMATURGIA EM FOCO: FERNANDO ARRABAL Parte 1


Hoje vou dedicar este espaço para venerar "Fernando Arrabal". No ano passado pude assisti-lo numa conferencia dentro da programação do Palco Giratório e desde o final do ano passado estou imerso em sua dramaturgia, lendo e pesquisando a sua obra (e que tem me impressionado muito pela qualidade e lirismo), por conta do próximo projeto do Grupo Válvula de Escape "Conversa de botas batidas", um mergulho no universo absurdo. Então inicio uma série de postagens sobre o grande Arrabal. 
Cidadão espanhol, Fernando Arrabal vive na França desde 1955. Contrário ao regime do generalíssimo Francisco Franco, partiu para um exílio voluntário, da mesma forma que outros intelectuais espanhóis, como o pintor Pablo Picasso (1881-1973) e o cineasta Luís Buñuel. Com a morte de Franco, em 1975, muitos desses artistas puderam retornar. Menos Arrabal,   “persona non grata” no país desde 1967.
Nesse ano, acompanhado da esposa. Luce Moreau, Arrabal viajou para a Espanha. Em Madri, foi abordado por um jovem que, entregando-lhe um volume de seu livro mais recente (Celebrando a Cerimônia da Confusão), pediu uma dedicatória e um autógrafo. Alguns dias depois, em Múrcia, sua casa foi invadida por um grupo de policiais. Devia segui-los a fim de responder a um interrogatório; usariam a força, se recusasse. Arrabal só veio a saber do motivo de sua prisão quando foi enviado para a Penitenciária de Madri. Era acusado de ter escrito uma dedicatória sacrílega e antipatriótica, pela qual poderia ser condenado de seis a doze anos de reclusão.
Enquanto Luce Moreau procurava, por todos os meios possíveis, conseguir sua liberdade, Arrabal permanecia encarcerado numa solitária: uma placa de metal lhe servia de cama, e os ratos passeavam livremente pelo chão. Foi solto, algumas semanas mais tarde, à espera do processo. As autoridades espanholas haviam ficado surpresas com os telegramas e cartas de protestos que chegaram do mundo inteiro.
Em setembro, Arrabal sofreu um julgamento absurdo pelo qual foi condenado a pagar cinqüenta mil pesetas de multa. Quando, na volta à França, um jornalista lhe perguntou como tinha sido sua estadia na Espanha, ele respondeu: “No que diz respeito à política, só posso enunciar uma série de chatices ou então falar em termos do bom senso comum. Sempre fui contrário a todos os tipos de tiranias e ditaduras. A razão pela qual fui provocado, preso, julgado e perseguido na Espanha, no último verão, está além da minha compreensão. Mas continuo pensando nos outros que estavam presos comigo na prisão de Carabanchel e que vão passar muitos anos atrás das grades por atos que uma nação civilizada não pode condenar, sem desonrar-se”.
As autoridades espanholas nunca perdoaram a Arrabal o fato dele anunciar publicamente a repressão política e de refletir em sua obra as contradições de seu pais de origem.

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