ESPETÁCULO LOCAL
Este é um dos melhores espetáculos que já assisti. Lembro-me até hoje daqueles personagens caipiras, da cenografia, da maquiagem daqueles personagens que iam se decompondo em cena. Uma produção impecável da Cia Faces e Carretos. Impossível não reconhecer o trabalho do Camilo de Lélis, que acompanho sempre suas montagens e a dupla de atores Ligia Rigo e Lutti Pereira.
Primeira montagem da peça do dramaturgo alemão Herbert Achternbusch no Brasil, com direção de Camilo de Lélis, A Bota e Sua Meia é um dos maiores sucessos de crítica do grupo teatral Face & Carretos.
Esta é uma tragicomédia em que um casal de idosos rememora incidentes de seu passado. Em cinco quadros, de aproximadamente 15 minutos cada um, o enredo alterna momentos de fantasia e realidade. Lélis transfere a ação do interior da Alemanha para o interior do Brasil, e os personagens se comunicam com forte sotaque caipira. A história dos dois idosos tem como pano de fundo a degradação física e mental dos personagens, que em cena perdem literalmente pedaços do corpo. A encenação funde, com propriedade, uma atmosfera poética e surreal com a visão de mundo cínica e desesperançada do texto original de Achternbusch.
A cenografia da peça reproduz, tridimensionalmente, uma singela casinha de madeira, vista de dois diferentes pontos, conforme a manipulação de sua estrutura. Numa das configurações, tem-se a visão da parte interna da habitação, onde o velho, com dificuldades de locomoção, permanece a maior parte do tempo. Em outra, vê-se a parte externa da construção e do terreno que a cerca, território dominado pela velha, que toma para si a manutenção da casa, em uma inversão dos tradicionais papéis masculino/feminino.
A monatgem recebeu cinco prêmios Açorianos, concedidos pela Secretaria da Cultura de Porto Alegre, incluindo melhor espetáculo e direção, e sete troféus no 2º Conesul de Teatro, em Pelotas, Rio Grande do Sul, entre os quais, os de melhor espetáculo e direção. O espetáculo viaja por sete capitais do Brasil, e é apresentado na Argentina, em Portugal e na Alemanha.
Fonte: ITAÚ CULTURAL
ESPETÁCULO NACIONAL
"ENSAIO.HAMLET"
Desconstrução Shakespereana de tirar o folego que esteve no Poa em Cena. Shakespeare estilhaçado, mas tampouco traído, pela proposta ousada da Cia dos Atores.
Primeira montagem de um texto da literatura clássica universal pela Companhia dos Atores, o espetáculo sintetiza a narrativa da história de Shakespeare e a envolve em interferências retiradas do processo de encenação, das relações do ator com suas personagens e das livres associações que a ação propicia aos criadores.
O espetáculo começa com todos os atores em cena e o primeiro texto, dito por Fernando Eiras, conta que, durante os ensaios de outro espetáculo dirigido por Enrique Diaz, ele pedia aos atores que fizessem acontecer 'alguma coisa de real'. Essa chave aciona diversos procedimentos da encenação, desde o uso de elementos concretos até a revelação do conflito, da crítica ou da perplexidade do ator em relação ao personagem que está encarregado de representar.
O Rei Cláudio queima as próprias mãos com água fervendo; Ofélia se afoga em uma seqüência de garrafões d'água que ela mesma joga sobre si; Hamlet argüi a mãe com uma câmera na mão e a expõe em telas; Ofélia morta entra como bife cru que, passado a ferro, faz subir o cheiro de carne queimada; Rosencrantz e Guildenstern adentram a cena como bonecos infláveis na forma de Jaspion (super-herói de seriado japonês); a atriz Bel Garcia revira uma bolsa procurando Ofélia e reconhece sua aversão a adolescentes; enquanto fala da irmã, Laertes se despe de suas roupas, veste um vestido, e ao final desta ação se transmuta em Ofélia; a rainha Gertrudes infantiliza o filho, que reclama de suas roupas apertadas, pequenas demais para ele; no monólogo de Hamlet, os três atores que se revezam na personagem estão juntos em cena e partilham o texto.
Fonte: ITAÚ CULTURAL
ESPETÁCULO INTERNACIONAL
"PARA AS CRIANÇAS DE ONTEM, HOJE E AMANHÃ" Pina Bausch
Com certeza outro espetáculo que deixará saudades aqueles que assistiram. Para as crianças de corpo e de espírito, para os que brincaram de pega-pega, pular corda, esconde-esconde e correram até ficar sem ar. Aos que apreciam a arte da dança, "Para as crianças de ontem, hoje e amanhã" foi o espetáculo da Companhia Tanztheater Wuppertal, que assisti e me encantei com a direção artística e coreografia da bailarina alemã Pina Bausch, grande referência mundial da dança-teatro, mas ouvir falar é uma coisa e poder ver ali, ao vivo, um referencial tão forte e aquilo tudo te emocionar e nortear o teu trabalho é bem diferente. O grupo expressou a magia de ser criança por meio de movimentos que levaram ao público as sensações catárticas do ato de brincar. Universal pelo tema e pela linguagem, o espetáculo que trata do amor e da infância, mistura cenas de dança e teatro e impressiona pela sensibilidade artística, pelas expressões corporais e pelo ritmo dinâmico, transformando a apresentação em um misto de sentimentos, do drama à alegria, surpreendendo o público a cada momento. O cenário é limpo: paredes brancas que contrastam com o fundo preto de duas grandes portas laterais e uma imensa janela no fundo do palco. Entre o preto e o branco, bailarinas que entram trajadas em vestidos floridos e transparentes, despojamento que se completa com a dança delicada e intensa. A formalidade do figurino dos homens - calça e camisa social - é quebrada pelos movimentos leves e descontraídos. Tem início a brincadeira: uma interação alegre, em que a frieza do preto e do branco é quebrada pelo colorido das coreografias e das expressões corporais. Muitos solos de dança ao longo do espetáculo, com uma trilha sonora diversificada que vai do jazz à música popular brasileira, incluindo músicos como Naná Vasconcelos, Caetano Veloso, Shirley Horn, Nina Simone, Gerry Mulligan e Marlyn Mason.
Amanhã tem mais três espetáculos.
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