sábado, 5 de novembro de 2011

MEMÓRIA DA CENA - Especial 30 ANOS Parte 4

Dando sequencia a este post especial sobre os espetáculos que fizeram a minha memória trago hoje a 4ª parte, onde destaco mais três espetáculos:
ESPETÁCULO LOCAL


"AUTO DA COMPADECIDA"
O "Auto da Compadecida" é uma daquelas peças que me pegaram desde que adentrei ao antigo espaço do Depósito de Teatro que ficava lá na Beijamin Constant. A peça pertence a boa safra que o Depósito produziu, e que ainda continua produzindo. Um espetáculo encantador que com certeza ficou retido em minha memória. Primeiro pelo projeto do Roberto e sua trupe, de encenar dramaturgos brasileiros, chegando ao Suassuna, numa montagem que era cheia de acertos, desde a bandinha de música que executava a trilha ao vivo, lembro até hoje de uma das canções "Compadece meu irmão, compadece minha filha, compadece todo mundo, auto da Compadecida..." Lembrar desta peça é bacana, é voltar atrás e relembrar aquele elenco maravilhoso que tinha a Liane Venturella fazendo a mulher do padeiro, esta atriz é grande, e aqui ela estava extraordinária. Tinha também  Marcelo Aquino, Nelson Diniz, Sandra Possani, Mário de Ballenti, Heinz Limaverde, Jeferson Raschevski, Caia Costac om a direção certeira de Roberto Oliveira, só fera!!! Só de lembrar já dá vontade de rir. Com certeza um dos melhores espetáculos que Porto Alegre já produziu.


ESPETÁCULO NACIONAL

"R&J SHAKESPEARE - JUVENTUDE INTERROMPIDA"

Este espetáculo ainda está bastante fresco na memória, pois assisti em setembro deste ano. A peça é maravilhosa, os atores são excelentes, a direção é precisa, a narrativa é fluída. Abaixo reproduzo o comentário que fiz sobre a peça: 
DRAMATURGIA X TEATRALIDADE

Ainda estou digerindo ao que assisti na semana passada no palco do Teatro Roberto Athayde Cardona em Montenegro.R&J Shakespeare - Juventude Interrompida. Gostaria de começar a analisar o espetáculo sob dois aspectos. Dramaturgia e Teatralidade.
Sob o ponto de vista dramatúrgico, diria que o texto do bardo é o principal atrativo, pois bem, diria, mas no caso desta montagem, existem várias possibilidades de dramaturgia(s): a dramaturgia do texto, que tem como interface a intertextualidade, mesclando a história doas amantes de Verona a história de quatro jovens alunos de uma rígida escola católica. O texto de Joe Calarco é uma recriação inventiva do texto de Shakespeare, que me faz relembrar a montagem que a Cia. dos Atores fez recriando outro texto de Shakespeare, "Hamlet", o espetáculo era "Ensaio.Hamlet", uma desconstrução e apropriação do texto do bardo inglês. Em Hamlet tínhamos uma recriação do texto, uma loucura com muitas possibilidades onde o texto do Shakespeare foi um pretexto para a criação de um espetáculo ousado, genial e criativo. Uma das montagens que eu mais gostei. Aqui, em "R&J..." Shakespeare triunfa, assim como toda a produção. O mote é o texto, mas as opções não se esgotam nele, pelo contrário, o texto é preenchido com ricas possibilidades cênicas, o "teatral" se instala na cena, de tal modo que o espectador embarca na proposta e se permite a compartilhar com aqueles alunos uma experiencia cheia de magia e rupturas. A teatralidade está em todos os detalhes da montagem, na proposta de desnudar a ilusão da cena, ou seja, sabemos que aquilo que estamos assistindo é teatro, são quatro alunos que estão representando os personagens de "Romeu e Julieta" e somos alertados a todo tempo desta condição meta-teatral, seja nas rupturas, nas transformações de um personagem para outro, nas inserções musicais ou até mesmo na utilização do belíssimo cenário. A teatralidade é muito latente, quando uma régua vira máscara, folhas de papel viram as flores do casamento, réguas são espadas e eu como espectador acredito, acredito e muito naquilo tudo, e se acredito é porque há VERDADE! E por falar em verdade, tem que se destacar o excelente elenco, os quatro atores são bárbaros e fazem milagre em cena. Mas não sei se serei injusto em destacar  o trabalho de Rodrigo Pandolfo, que faz o personagem de Julieta, além de outros personagens. O trabalho dele é impecável e intenso, alcançando uma verdade e coesão que seria difícil de algumas atrizes imprimir a esta personagem, pela força poética e entrega, sem exageros na interpretação. Todos os atores tem grandes momentos, mas Pandolfo rouba a cena. Tanto que o espetáculo foi quatro vezes aplaudido em cena aberta e ovacionado no final. O ator que faz a ama também tem grandes e divertidos momentos, assim como os demais. 
Mas não poderia encerrar sem parabenizar o diretor João Fonseca que soube explorar ao máximo todas as possibilidades da cena, uma encenação criativa, limpa, repleta de signos, mas, o mais significativo é que consegue colocar Shakespeare no seu devido lugar: nas graças do povo. Consegue manter um clima leve e potente na maior parte do espetáculo culminando na tragédia dos amantes de Verona, numa montagem eletrizante. Um dos melhores espetáculos dos últimos anos. 


ESPETÁCULO INTERNACIONAL

"HAMLET" de Eimuntas Nekrosius - Lituânia
GENIAL!!!!! 
Este espetáculo me levou a olhar um mapa mundi e ver onde fica a Lituânia, e é longe, do outro lado do planeta! Isso não foi barreira para eu conhecer e me encantar com a proposta de Eimuntas Nekrosius. Um espetáculo que era pura teatralidade, um jogo de opostos, o fogo e o gelo em cena. Depois deste espetáculo passei a ter este encenador como referencia em criação teatral, anos depois eles retornaram a Porto Alegre e fui assistir também e me identifiquei cada vez mais. Apesar da barreira da língua, o espetáculo se sustenta pelo seu caráter universal, principalmente pela cenografia alegórica. Uma bela contribuição as platéias gaúchas. 

Amanhã tem a 5ª parte desta postagem especial. 

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