sexta-feira, 3 de agosto de 2012

PRA CADA SAPATO UM PATO! Comentário crítico

"Pra cada sapato um pato!" veio representar Novo Hamburgo no Festival de Teatro Montenegro em Cena. A cena inicia com uma espécie de ritual de candomblé, com tambores, velas e um despacho é deixado em cena. Logo em seguida vem um lixeiro que reclama daquele despacho, dizendo que é um absurdo aquele lixo e que ele não vai botar a mão em nada, mas logo em seguida ele se agacha e põe a mão no lixo! Uma das muitas contradições apresentadas pela peça. 
A narrativa da peça gira em torno da situação calçadista de Novo Hamburgo, realidade transformada em dramaturgia pelo Paranóia através das mãos do diretor Luis Fernando Rodenbuch. A exploração da classe operária é o tema central da trama, que levanta uma bandeira que faz parte da realidade dos moradores da região. O espetáculo trás um leque de personagens calcados na caricatura e esteriótipo. Desfilam no palco a secretaria enjoada, o gay, a perua entre outros. Por outro lado a peça apresenta outros personagens que poderiam ter maior profundidade como a operária Jurema e seu esposo que enfrentam problemas de saúde em decorrência dos malefícios causados pela exploração trabalhista. 
A peça poderia ser classificada como Teatro-Empresa, pelo tema proposto, mas como não gosto de rótulos, sendo que para mim teatro é teatro e ponto final, digo que a peça também tem algumas características que não a excluem de ser um espetáculo que funcione fora do ambiente empresarial. 
O elenco é numeroso e conta com muitos jovens e adolescentes, sendo que alguns estariam debutando no palco. Este é um dos grande méritos desta peça, de colocar sobre o palco uma nova geração de atores, que com seus erros e acertos estão em processo de aprendizagem e isto é emocionante. Já o espetáculo em si, deixa em muitos aspectos a desejar, mas tem alguns pontos positivos. 
A ideia da trilha sonora ser executada ao vivo é um ponto bastante favorável, pois valoriza o espetáculo, mas ainda sim poderia ser melhor utilizada, potencializada e apostar de verdade na inserção destas, que as vezes entra timidamente ou com volume baixo. Os atores também poderiam trabalhar melhor a projeção e dicção do texto, pois as vezes não conseguíamos entender o que era dito no palco. 
Uma das coisas que incomoda são aquelas mascaras utilizadas pela banda, que além de não serem bonitas esteticamente, não dizem nada, não auxiliam a contar a história. 
A ideia do ônibus é ótima e esta cena demostra um dos caminhos que o grupo poderia seguir, o de investir na teatralidade, ou seja, ao invés de misturar linguagens, se agarrar em objetos reais e concretos, poderia seguir por este caminho de tornar as ações mais teatrais, menos burocráticas, mostrando ao público que aquilo que estamos assistindo é teatro, que é jogo, que aquele signo é um ônibus, e a platéia lê e interpreta esses signos propostos.  Outro ponto positivo e que exemplifica esta ideia de teatralidade é a utilização das cordas, mas que não é aproveitada, a cena é rápida e logo se desfaz, perdendo uma grande oportunidade de conseguir uma cena funcional dentro da peça.
A dramaturgia peca em lançar para público pequenos dramas e fragmentos de histórias que ao final acabam não se concretizando, como a história de Jurema e o marido, o concurso da Garota Sapatão, o pessoal do teatro que vai até o patrão solicitar patrocínio, o assalto e a consequente morte do patrão, enfim, se criam vários nichos sem grandes conflitos e desfechos. 
A cena final poderia vir a ser impactante se fosse melhor dirigida, mais limpa, pois a imagem da classe operária enterrando o patrão-algoz e jogando sobre ele o produto de seu trabalho, os sapatos, poderia ser impactante, se o cunho político e estético fosse abordado de outra forma e durante todo o desenrolar da trama.   
Mas parabenizo ao Rodenbuch pela logística de trazer todos os seus alunos para o festival e despertar neles este amor pelo teatro e que através desta experiência eles possam seguir adiante produzindo e aprendendo cada vez mais. 

Ficha técnica: 
Diretor: Luis Fernando Rodembuch
Autor: Adaptado por Luis Fernando Rodembuch 
Sonoplasta: Luis Fernando Rodembuch e o grupo 
Criador da trilha sonora: Luis Fernando Rodembuch e o grupo
Criador da iluminação: Luis Fernando Rodembuch
Figurinista: Camila 
Cenógrafo: Luis Fernando Rodembuch



Diego Ferreira - Comentador crítico do I Montenegro em Cena. 


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