"O auto da camisinha" é mais uma grata surpresa dentro do Montenegro em Cena. Um espetáculo que se estrutura a partir do texto de José Mupurunga, um dramaturgo cearense, autor também de "Farsa do Panelada" que foi o texto premiado no 2º Prêmio Carlos Carvalho de Porto Alegre.
A dramaturgia coloca em evidência a ação desenvolvida em dois planos, o celestial e o terreno, onde desfilam figuras como o diabo e o anjo, personagens que sempre aparecem nos folguedos e dramaturgia popular brasileira, tendo como um bom exemplo Ariano Suassuna e seu Auto da Compadecida.
A peça começa com uma música do Cordel do Fogo Encantado e logo em seguida é dito um texto que também é do Cordel, demostrando a abertura da direção em agregar outros fragmentos que possam ajudar a contar a história. E na minha opinião o grupo consegue um ótimo resultado na construção do seu espetáculo, dentro de um espaço equilibrado, com a utilização de poucos recursos de cenários.
O texto, apesar de conter uma métrica, que é uma característica do autor, precisa ser um pouco mais trabalhado, buscando um ritmo mais apropriado, mas mesmo assim percebo que está bem internalizado pelo elenco que é bastante coeso. O sotaque nordestino não chega a atrapalhar a apreciação da peça, penso que o grupo consegue até extrapolar um pouco a caricatura nordestina.
A trilha sonora executada ao vivo pela bandinha dá um colorido todo especial a cena, pontuando determinadas ações e em alguns momentos são cantadas algumas canções que fazem parte do cancioneiro popular e penso que conseguem alcançar bons resultados com isso.
Preciso destacar primeiramente a direção de Sabrina Schwan, pela criatividade e coragem em construir um espetáculo belo e poético, repleto de soluções bacanas e inteligentes, concebendo uma montagem que dá valor a visualidade, com uma boa maquiagem, uma paleta interessante de cores dos figurinos e iluminação. Destaco também todo o elenco, alertando apenas para cuidar a respiração em determinados momentos da execução das ações e canções, e deste elenco destaco a atriz Barbara Marmor, que possui um olho que brilha e tem um bom trabalho de interpretação e também a Bruna Descovi que consegue segurar muito bem a sua personagem.
O grande barato da montagem é que este tipo de peça poderia cair num pieguismo didático facilmente, mas conseguem ir muito além disso, construindo um espetáculo divertido, correto e repleto de acertos.
Autor: José Mapurunga
Contra-regra: X
Sonoplasta: O grupo
Criador da trilha sonora: O grupo
Iluminador: Sabrina Schwan e Iago Muller
Criador da iluminação: Sabrina Schwan
Maquiador: Sabrina Schwan
Criador da maquiagem: Sabrina Schwan
Figurinista: Sabrina Schwan
Cenógrafo: O grupo
Elenco: Bárbara Marmor
Andrei Krummenauer
Bruna Descovi
Bruna Sampaio
Sandro Lima Schwan
Pâmela Fogaça
Diego Ferreira - Comentador Crítico do Montenegro em Cena
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