SE EU FOSSE HAMLET
Se eu fosse Hamlet
comprava flores para Ofélia, goma de mascar inglesa,
transístor com fones de ouvido,
champanhe, palitos –
e a convidava para viajar
a Florença ou Roma.
Se eu fosse Hamlet
dava de presente a ela uma gaiola cheia de pipilantes tentilhões
um par de patins de estrela do gelo
uma permanente para os aerobarcos suecos.
Se eu fosse Hamlet
me concentrava na minha vida amorosa
em vez de ficar a remoê-la por aí;
loteava Kronborg
em apartamentos de condomínio,
e ia morar numa casa em Fiolgade
- talvez comprasse até um colchão de água -
Se eu fosse Hamlet,
mandava às favas todas as especulações sombrias
e seria mais do que sou agora,
em vez de ficar só pensando a respeito
e fazendo longas preleções sobre.
Não me intrometeria mais na vida sexual de mamãe,
se eu fosse Hamlet.
Admitiria logo que o velho está morto
e não ia mais perambular pelas noites escuras atrás de um fantasma
que no coração só tem vingança.
Se eu fosse Hamlet,
deixaria Polônio ficar atrás das cortinas
tanto quanto lhe desse na telha:
afinal de contas, é só um velho gagá –
e me recusava a andar, fosse onde fosse,
com tipos tão ridículos quanto Gildensfúncio e Rosentonto
ou como quer que se chamem –
Se eu fosse Hamlet,
ia farrear com Horácio
beber chope com Frank Jaeger,
jogar dados com marujos nalgum boteco de porto,
andar com donas suecas,
mandar tatuar no braço:
Ophelia, I Love You,
logo abaixo de um
coração em chamas –
isso se eu fosse Hamlet.
(Peter Poulsen: tradução de José Paulo Paes)
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