"Vendetta Corsa - Poque minha ferida é mortal" trouxe qualidade ao Montenegro em Cena. Um espetáculo provocante e extremamente belo.
A peça é estruturada dentro de uma linguagem contemporânea e faz uso de uma série de elementos que precisa ser destilada em camadas. E esse é o grande mérito da montagem, provocar o espectador a desvelar uma série de códigos e signos impregnados de teatralidade.
Aplaudi o espetáculo em pé, e aqui louvo a dramaturgia(s), e grifo o termo dramaturgias, assim mesmo, no plural, porque o espetáculo possui várias camadas dramatúrgicas, sendo que dramaturgia não é somente o texto, mas sim a dramaturgia textual, visual, espacial, sonora, corporal. Todas essas formam o grande quebra-cabeças que é Vendetta Corsa.
O espetáculo é repleto de acertos a começar pelo espaço cênico, uma cenografia nada realista, que já denota o clima da trama. Facas suspensas sob fios vermelhos. Sangue. Um céu de facas que coloca todos sob o mesmo teto, sob a mesma condição. E isso está lá na cena. Todos os personagens tem o mesmo discurso, todos tem as mãos marcadas pelo sangue. Todos fazem parte do mesmo jogo.
O texto é pautado pelo corte, pelo fragmento, com diálogos curtos e ágeis, dando o ritmo a ação. A ação da peça se passa em Porto Alegre e o texto trás uma série de referencias como a Garibaldi, a Farrapos, os imperadores do samba, a voluntários da pátria, dando um referencial geográfico e de espaço a cena. A cena das meninas lésbicas é bonita e provocadora e a cena final impactante unindo o texto e a projeção. Outro aspecto importante é a utilização de atores-narradores que ao mesmo tempo que fazem, narram e comentam a ação. A iluminação é funcional e correta. A trilha é bem selecionada, funciona no contexto da cena, mas é demasiada, pontua toda a ação, faltando espaço para o silêncio, a pausa, o vazio e deixando de potencializar outros modos de produzir som no espetáculo como por exemplo, a respiração inicial dos atores, os jornais sendo rasgados ou manipulados, a água derramada, o barulho das rodinhas da cadeira ou até mesmo o silêncio que auxiliaria a criar o clima necessário para fisgar o espectador, pois o espetáculo é lindo, é correto, os atores são muito bons, mas o espetáculo não chega a me emocionar, talvez não era para me emocionar mesmo, mas o que é certo é que pude compartilhar uma grande experiencia estética que me provocou sim, mexeu comigo sim, meus olhos brilharam sim e por isso afirmo que "Vendetta Corsa" é um dos melhores espetáculos que assisti nos últimos tempos.
Ficha Técnica
Diretor: Júlio Conte
Autor: Júlio Conte
Assistente de Direção: Alessandro Peres
Contra-regra: o grupo
Sonoplasta: Cristiano Godinho
Criador da trilha sonora: Júlio Conte (pesquisa de trilha sonora)
Iluminador: Cristiano Adeli
Criador da iluminação: Júlio Conte
Maquiador: o grupo
Criador da maquiagem: Catharina Conte
Figurinista: o grupo
Cenógrafo: o grupo
Diego Ferreira - Comentador crítico do I Montenegro em Cena.
Muito obrigado, Diego, pelas belas palavras e excelente crítica! Ficamos muito felizes com a tua percepção da Vendetta!
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